MUDANÇA DO 5º BPM PARA O BAIRRO DA GAMELEIRA
Antônio Egg
Resende
Coronel PM
Inativo
Muito honrado com a consulta de uma Tenente
do Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural da Polícia Militar, sobre se eu poderia escrever
algo sobre o 5º Batalhão por ocasião do seu centenário que estará ocorrendo no
dia 25/05/2022, respondi-lhe afirmativa e imediatamente.
Isso porque tive a honra de servir na
Unidade, entre 17/10/1963 e 23/11/1967, num momento marcante de sua riquíssima
história.
A criação e instalação do 5º Batalhão da
PMMG remontam a 11 de abril de 1922, pelo Decreto nº 6.060, assinado pelo
Governador de Minas Gerais, Dr. Eduardo Carlos Vilhena do Amaral, inicialmente
com a denominação de 5º Batalhão de Infantaria.
Foi composto inicialmente de 17 oficiais e 983 praças e com quatro companhias.
Seu Boletim nº 01 foi de 25 de maio de 1922
e seu primeiro Comandante foi o Ten. Cel. Joviano Wanderley de Melo.
Foi instalado provisoriamente na ala direita
do quartel situado na Praça Floriano Peixoto, no Bairro Santa Efigênia, do
atual 1º Batalhão de Polícia Militar que, por longos anos, por ser responsável
pela guarda dos Palácios do Governo do Estado, era intitulado Batalhão de
Guardas - “BG”.
Em 07 de abril de 1924 foi transferido daquela
localidade para a Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza.
A Unidade teve participação ativa e heroica,
infelizmente com grande número de perdas de vidas,
nos movimentos revoltosos
de:1924 - Revolta Paulista; 1925 - Coluna Prestes/”Tenentismo” e 1930.
Em 25/05/1957, a Unidade recebeu o nome de 5º
Batalhão de Policiamento Ostensivo – BPO - passando a ser a pioneira na
execução do policiamento ostensivo na Capital.
A primeira grande obra literária sobre a
nossa embrionária atividade, intitulada “Policiamento”, foi escrita pelo Major
Antônio Norberto dos Santos, então Subcomandante do 3º BI/Diamantina e impressa
em 1962.
Com 546 páginas, a obra contém preciosas lições,
ainda plenamente válidas e, nela, o autor já citava o “BPO” na Capital e intitulava
as duplas de policiamento de área com o nobre título de “Cosme e Damião”.
Isso evidencia que o 5º BPO foi o precursor do
policiamento a pé, na Capital, e também do patrulhamento motorizado, através das
“patrulhas volantes” – PV - posteriormente “rádio patrulhas”- RP - ,
policiamento com cães e o policiamento escolar, tendo eu sido seu comandante, tendo como subcomandante o então
2º Tenente Joel Mansur Reis.
Com a inauguração do Estádio Magalhães Pinto –
Mineirão - em 05/09/1965, a Unidade tornou-se também responsável pelo seu policiamento,
durante a realização de jogos ou shows, pontificando-se como primeiro
comandante o então Cap. Pedro Floriano da Paixão.
Minha
história com o 5º BPO/BPM iniciou-se em 17/10/1963, quando ali chegamos oito
colegas de turma do CFO/Departamento de Instrução, declarados Aspirantes a
Oficial em 10/10/1963.
Certamente apreensivos, mas admirados pelo
imponente posicionamento de seu quartel na principal praça do Bairro, pela sua
bela arquitetura interna e externa.
E felizes, pela nossa nova condição hierárquica
e pela simpatia e cortesia com que fomos recebidos, pelo seu Comandante, Major
Luiz Nunes Neto, seu Sub Comandante, Major Alberto Piantanida e sua
oficialidade.
O Major Luiz Nunes Neto havia sido designado para
o cargo de Comandante interino em 22/04 até 04/06/1963 e de 29/06 a 29/11/1963,
porque seu substituído teria sido o Ten. Cel. Jonas Pereira da Silva que,
entretanto, não chegou a assumir.
Nós aspirantes nos adaptamos bem e com os
tenentes, além de outras funções normais, concorríamos às escalas de Oficial de
Dia e de Comandante de Policiamento de Área – CPA.
O oficial CPA, em uma Patrulha Volante com
guarnição normal, supervisionava a execução do policiamento a pé executado pelas
duplas “Cosme e Damião” e o motorizado, por mais uma ou duas patrulhas volantes.
Esse oficial apoiava todo o pessoal de
serviço em ocorrências especiais ou nas em que se envolvessem integrantes da
Polícia Civil, das Forças Armadas e da Polícia Militar mais graduados que os comandantes
das guarnições do policiamento motorizado.
Em 29/11/1963, o Major Luiz Nunes Neto transferiu
o comando ao Ten. Cel. Saul Alves Martins e a nossa rotina administrativa e
operacional continuou normal até o dia 31/03/1964.
Aqui, faço uma sintética rememoração da História
pátria, para melhor entendimento do que se passava no Brasil naquela época, o porquê
da Revolução de 31 de março de 1964 e como foi a participação da Unidade no
desempenho da missão a ela atribuída pelo Comandante Geral da PMMG, o grande
líder Coronel José Geraldo de Oliveira.
A aparente normalidade em que vivíamos, ao
final daquele ano e princípio de 1964, passava por uma crescente tensão, desde
o fim do regime parlamentarista e a posse de João Belchior Marques Goulart –
“Jango” - como Presidente da República, em janeiro de 1963.
Tudo começara em 03/10/1960, quando foram
eleitos Jânio Quadros, como Presidente da República, e João Goulart – Jango -,
como Vice, a posse de ambos em 31/01/1961, a misteriosa renúncia de Jânio em
25/08/1961 e a adoção do regime parlamentarista, como alternativa imposta pelas
Forças Armadas para que o Vice assumisse a Presidência, o que ocorreu em
07/09/1961.
Mas, em janeiro de 1963, com o fim do regime
parlamentarista, efetivado como presidente e apoiado pelos seus aliados
políticos esquerdistas, inclusive através de violentas e variadas ações
terroristas, Jango passou a agir firmemente para o alinhamento ideológico do
Brasil com Cuba, China e União Soviética.
E o clímax dessas ações ocorreu no dia
13/03/1964, quando, durante o “Comício da Central do Brasil”, no Rio de
Janeiro, o Presidente reforçou seu compromisso, perante um público de 150.000 a
200.000 pessoas, de realizar as Reformas de Base, dando a entender que havia abandonado
a política de conciliação e sua real aproximação com o comunismo reinante
naqueles países.
Essas atitudes governamentais desencadearam forte
reação da população, através de passeatas e ocupação de vias públicas das
principais capitais do País, no dia 19/03/1964, sob a denominação de “Marcha da
Família com Deus pela Liberdade”, que alcançou a marca de 500.000 participantes
em São Paulo.
Diante do agravamento da ameaça à democracia
e do clamor público, ao lado de altas autoridades militares e dos governadores
dos Estados de Minas Gerais, José de Magalhães Pinto, Guanabara, Carlos Lacerda
e de São Paulo, Ademar de Barros, a deposição de João Goulart pelas Forças
Armadas e Auxiliares passou a ser uma questão de dias.
E essa ação, que podemos definir como
“Contra – Revolução de 1964”, foi desencadeada em 31/03/1964, sob a liderança
civil do Governador de Minas, irmanado com os comandantes da 4ª Região Militar/Juiz
de Fora - General Olímpio Mourão Filho, da 4ª Brigada de Infantaria/BH – General
Carlos Luís Guedes e, obviamente, com o Comandantes Geral da PMMG - Cel. José
Geraldo de Oliveira. Sob o comando do General Mourão, parte das tropas mineiras
partiu rumo ao Rio de Janeiro e outra rumo a Brasília.
Sob o
comando do Ten. Cel. Saul Alves Martins, o 5° BPM deslocou-se, devidamente preparado
para eventuais combates, inicialmente para Juiz de Fora e se instalara no
quartel do 2º BPM que se deslocara rumo ao Rio de Janeiro.
Entretanto, não houve necessidade de prosseguimento
de nossa marcha rumo ao Rio de Janeiro, visto que o Presidente já havia abandonado
seu cargo e refugiado no Uruguai e o Congresso Nacional decidido por declarar
vago o cargo.
Sob intensos protestos dos apoiadores de
Jango, por sugestão do Senador Auro de Moura Andrade, Presidente do Senado, o
Presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzili, assumiu o cargo de
Presidente da República interinamente.
Obtido o resultado almejado, o 5º BPM retornou
à sua base e retomou sua rotina operacional e administrativa.
Em 18/04/1964, representado por uma companhia, participou do
“Desfile da Vitória” na Av. Afonso Pena, o tradicional palco da Capital.
Nessa ocasião, o Governador do Estado,
atendendo a ponderações do Comando Geral da PM, no sentido de que a Corporação
estava precisando de mais espaço na Capital, para abrigar condignamente Diretorias
e Serviços subordinados e também o Colégio Tiradentes Central, até então
precariamente instalados, decretou a transferência das instalações físicas e áreas
ocupadas pelo Instituto João Pinheiro,
fundado em 1909, na antiga Fazenda da Gameleira, como a primeira Escola
Primária e Agrícola de Minas Gerais, da Secretaria de Agricultura para a PMMG.
Instalamo-nos em um pavilhão situado na
parte baixa de toda a área e próximo ao anexo do Colégio Estadual do Bairro
Gameleira e bloqueamos as duas entradas do Instituto, não permitindo que nada
fosse retirado e só fossem autorizadas entradas e saídas de moradores, tendo
todos esses sido catalogados e registrados seus locais de residência.
Comandei esse pelotão entre os dias 20 e 22
de abril, fui promovido a 2º Tenente no dia 21/04, e fomos substituídos pela
Companhia de Metralhadoras Pesadas - CMP - sob o comando do Capitão Carlos
Bernardes da Silva, com suas Administração e Intendência, ocupando
provisoriamente o mesmo pavilhão, para dar continuidade à ocupação e à
segurança da área.
O comando designou uma comissão, composta pelos
Capitães Carlos Bernardes, Walter Mesquita e Senilo Pereira Dutra e o autor
deste texto, para estudar a melhor ocupação de cada pavilhão pelos órgãos da Unidade
e planejar as adaptações necessárias.
Com base nesse trabalho, a mudança ocorreu
nas seguintes condições:
1.
a
CMP foi transferida de sua posição inicial para o pavilhão número 2;
2.
em
26/05, a 3ª Companhia, sob comando do Cap. Senilo Pereira Dutra, foi
transferida e ocupou a ala direita do pavilhão 3;
3.
em
27/05, mudou-se a 2ª Companhia, sob comando do 1º Tenente Josué Arruda de
Carvalho, para a ala esquerda do mesmo pavilhão;
4.
no
mesmo dia foram transferidos o ambulatório, o gabinete médico, chefiado pelo Cap.
Med. Salvador Silveira Santos, o gabinete dentário, chefiado pelo Cap. Dentista
José de Oliveira Campos, para parte do pavilhão 2;
5.
ainda
no dia 27/05 foi transferida a cantina, instalando-se no pavilhão 7;
6.
em
29/05, foram transferidas a Administração e a Intendência da Companhia de
Comando e Serviços – CCS – sob comando do 1º Ten. Waldir Felix de Almeida,
ocupando a ala direita do pavilhão 5;
7.
no
dia 30/05, logo após o almoço, a Aprovisionadoria e os setores afins foram
transferidos e instalados em sua nova dependência, no pavilhão 7, a tempo de
servir o jantar;
8. em 30/05, recrutas da 1ª companhia, que
aguardavam o momento de irem para Divinópolis, onde cursariam o CFSd, e o
material que ainda estava na sede, ocuparam a ala esquerda do pavilhão 5. É
justo ressaltar que esses recrutas tiveram uma participação especial nas tarefas
de limpeza geral e no carregamento e descarregamento de caminhões utilizados no
transporte de móveis e equipamentos.
9.
em
30/05, foi transferida a Seção de Transportes para o pavilhão 13;
10.
em
02/06, a Tesouraria instalou-se no pavilhão 10;
11.
na
mesma data, instalou - se a Banda de Música, sob o comando do Maestro 1º Ten.
João Evangelista de Paula, no pavilhão 8.
A propósito, em junho de 1964 foi reeditado
um “livreto de bolso”, de autoria do referido Maestro, com 64 páginas, e os
seguintes dizeres na capa:
“Polícia Militar de Minas
Gerais – 5º Batalhão de Infantaria – Instalado no dia 22 de maio de 1922 pelo
Decreto 6.060, sendo 1º Comandante o Ten. Cel Joviano Wanderley de Mello - Hinário
– 2ª edição - com Canções Patrióticas Para a Vida dos Colégios e Corporações
Militares – 04-06-1964 – (Dia da Transferência da Unidade de Santa Tereza para
a Gameleira”).
12.
também
em 02/06, foi transferido e instalado, em parte do pavilhão 2, o arquivo da
Secretaria;
13.
no
dia 04/06 concluiu-se a mudança, com a instalação do Comando da Unidade, seu
Estado-Maior e Secretaria na parte superior do pavilhão 1 – frontal e, na parte
inferior do prédio, o Serviço de Dia e a Sala de Operações.
Um
grupo de PMs, sob comando de um sargento, permaneceu no antigo quartel, porque
lá ainda tiveram que permanecer, enquanto se aguardava a desocupação do espaço
destinado a cada qual e se realizariam as necessárias adaptações: almoxarifado,
biblioteca, barbearia das praças e alojamento dos oficiais, mas sua mudança e
instalação se concretizaram antes de 02/07.
Após a plena instalação de todos os setores
da Unidade e cessada sua missão, a Comissão foi desfeita e, em 15/07/1964, foi
criado o “Serviço de Patrimônio”, para realizar as ações logísticas necessárias,
tendo sido designado para o cargo o autor deste texto.
O abastecimento de água do antigo Instituto e
do Departamento de Produção Animal – DPA – da Secretaria de Agricultura, hoje Expo
Minas, era coletada de uma fonte existente no Bairro Bonsucesso e, de um
reservatório contíguo, bombeada e, através de longa tubulação, chegava à caixa d’água situada na parte mais alta do
terreno da antiga Fazenda da Gameleira.
Por questão de saúde e segurança, o comando
da Unidade decidiu construir um poço artesiano, um reservatório próximo e a
respectiva rede de distribuição abrangendo todo o aquartelamento.
O Ten. Cel. Saul passou o comando, em
31/05/1965, ao Ten. Cel. José Cândido de Almeida.
Esse, em 22/04/1966, transferiu o comando ao
Ten. Cel. Namir Gonçalves de Lima, que já vinha exercendo o cargo de Subcomandante
do Batalhão desde o final da mudança da Unidade para a Gameleira.
Em seu período de comando, a Polícia Militar
passou a exercer o policiamento ostensivo com exclusividade no Estado, com base
no Decreto- Lei nº 317, de 13/03/1967, assinado pelo Presidente Humberto de
Alencar Castelo Branco.
Essa exclusividade gerou a extinção da
Guarda Civil da Polícia Civil e o radiopatrulhamento até então executado por
ela passou a ser feito pelos Batalhões de Policiamento Ostensivo em suas
respectivas áreas, inclusive o radiopatrulhamento.
Em decorrência, o 5º BPM teve que ampliar o
número de guarnições em cada turno para operar as rádio patrulhas.
O Coronel Namir passou o comando, em
21/11/1967, para o Ten. Cel. Sebastião Domingues.
Um parêntese. Tenho o prazer de informar aos muito amigos feitos pelo Coronel Namir, que serviram sob suas ordens como Subcomandante e/ou Comandante do 5º Batalhão, que ele estará completando 98 anos de idade no dia 26/05/2022, ou seja, no dia seguinte ao do centenário.
No dia 16/11/1967, em decorrência de minha promoção
a capitão no dia 10, fui classificado no CQG com destino à Diretoria de
Policiamento Militar, para exercer o cargo de Coordenador de Operações, em
rodízio com outros capitães, na Central de Operações – COP - , sediada na esquina
de ruas Paraíba e Santa Rita Durão.
Meu último ato no 5º Batalhão foi comandar a
Companhia de Guarda de Honra, para a passagem de comando do Ten. Cel. Namir
para o Ten. Cel. Domingues, e meu desligamento para o CQG ocorreu em 23/11/1967.
Em minha vida profissional na Corporação,
sinto – me plenamente realizado e me senti bem em todos os órgãos em que servi,
mas no 5º BPM passei ótimos anos de minha vida, com muito trabalho, mas num
ambiente de muita cordialidade e união, tanto que, mesmo após meu desligamento,
continuei alojado em suas dependências, até o dia 12/07/1969, quando me casei.
Para finalizar, ressalto que, além da transferência do Quinto Batalhão, a visão estratégica do Comandante Geral da Corporação e atendida pelo Governador do Estado, foi plenamente atingida com a construção, em momentos diversos e consecutivos, das sedes dos seguintes órgãos e serviços:
1.
Colégio
Tiradentes Central, na Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza;
2.
Diretoria
de Apoio Logístico e os Serviços subordinados, no Bairro Gameleira, onde também
foram instalados e ali funcionam os órgãos abaixo descritos;
3.
Diretoria
de Finanças;
4.
Anexo
Gameleira do Colégio Tiradentes;
5.
Estande
de Tiro da PM;
6.
Núcleo
de Atenção Integral à Saúde - NAIS – PM/DAL;
7.
Clube
de Cabos e Soldados.
Belo
Horizonte, 25 de maio de 2022