Viaturas históricas da PMMG resgatam memória em mostra na Praça da Liberdade
Autor: Killzy Lucena - Sala de Imprensa PMMG
Confira as reportagens sobre o evento:
Autor: Killzy Lucena - Sala de Imprensa PMMG
Confira as reportagens sobre o evento:
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de Novembro dia do Músico!
Hoje comemora-se o dia do músico! Em homenagem a todos esses profissionais, falaremos um pouco sobre a Banda de Música do 3º Batalhão da PMMG, mais antiga agremiação musical da Polícia Militar de Minas Gerais, que em 2021 completa 130 anos.
Pelos
registros históricos sabe-se que desde a antiguidade as Bandas de Música
tiveram ligação com os exércitos, pois devido à grande projeção sonora de seus
instrumentos, foram usados para a comunicação e evolução dos corpos militares
dentro dos quartéis e nos campos de batalha.
Diversos autores dizem que as bandas de música tem
origem na Alemanha no século XVII, quando as mesmas ainda se constituíam de
instrumentos como oboés e fagotes, fazendo parte da vida militar. No Brasil as
primeiras notícias que se tem sobre a constituição de bandas datam apenas após
a vinda da Família Real Portuguesa, em 1808. Dos quatro Corpos Militares
criados em Minas Gerais no ano de 1890, apenas o de Diamantina permaneceu na
mesma sede e manteve atividades ininterruptas até a atualidade.
A Banda de
Música do 3º Batalhão, sediada em Diamantina, foi criada de forma oficiosa, em
1891, pelo militar músico, Sargento João Batista Teixeira. Posteriormente,
tornou-se oficial, como outras tantas bandas, que foram sendo criadas em outros
batalhões da Polícia Militar de Minas Gerais. Para organizá-la, João Batista
Teixeira recrutou músicos das bandas civis Corão e Corinho. Por ter se preservado
desde o início da República, não obstante tenha passado por algumas fases de
inatividade em dado momento específico, como durante os períodos
revolucionários de 1930 e 1932, a Banda de Música do 3º Batalhão da Polícia
Militar é a mais antiga corporação musical militar do Estado de Minas Gerais.
Habitualmente,
a Banda de Música do 3º Batalhão sempre foi parte integrante das festas
religiosas, com vários de seus músicos executando os cantos dos ritos
litúrgicos, os motetos, ofertórios, ladainhas etc, no interior dos templos.
Também esteve ligada à produção música para o entretenimento da sociedade: uma
das manifestações culturais mais frequentes, e que permaneceu por período
longevo em Diamantina, foi a apresentação de retretas, que eram concertos populares
realizados em praça pública, muitas vezes nos coretos erguidos em várias
cidades mineiras para abrigarem as bandas. A Banda de Música do 3º Batalhão deu
continuidade a essa cultura, herdada das bandas civis anteriores. O apogeu
dessas retretas ocorreu durante as décadas de 1930 e 1940.
Na década
de 1990, quando Diamantina se candidatou ao título de Patrimônio Cultural da
Humanidade, formou-se uma comissão composta por diversas pessoas de notório
saber, para elaborar um ensaio histórico estratégico, sobre o qual o Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) pudesse desenvolver um
dossiê com as justificativas oficiais da candidatura, para ser entregue à
UNESCO. Entre essas pessoas estava o monsenhor Walter de Almeida, oficial
capelão do 3º Batalhão da Polícia Militar, grande conhecedor tanto da história
da Polícia quanto da Igreja Católica. Suas indicações foram determinantes para
a definição das justificativas.
A
necessidade de preservação dessa musicalidade singular para conhecimento das
gerações futuras se consagrou como um dos argumentos fortes que pesaram, com
muito vigor, para que Diamantina recebesse o título universal. Nesse sentido, o
monsenhor Walter de Almeida sugeriu a volta da Banda de Música do 3º Batalhão
para as sacadas da cidade, como atração cultural a ser recuperada e oferecida
dentro do novo contexto que se delineava. Era de seu conhecimento a tradição da
banda executar a fantasia La Mezza Notte, popularmente conhecida como “O Anjo
da Meia Noite”, durante as retretas realizadas em Diamantina, com grande
frequência, nas décadas de 1930 e 1940.
Enviado o ensaio histórico estratégico para o IPHAN, e estando a cidade em plena campanha para aquisição do título junto à UNESCO, o Ministério da Cultura marcou o lançamento do Programa Nacional de Turismo Cultural para o dia 16 de agosto de 1997, em Diamantina. Surgia aí a grande oportunidade dos músicos militares retornarem para as sacadas, celebrando a hora vesperal, conforme tradição iniciada pelo maestro Piruruca em tempos remotos, quando ainda não havia luz elétrica na cidade. Para aquela apresentação, que acabou acontecendo no período noturno, a Banda Mirim, mantida pela prefeitura, uniu- se à Banda de Música do 3o. Batalhão. Desse modo, a manifestação cultural conhecida como “O Anjo da Meia Noite”, acabou transformando-se no atrativo turístico denominado “Vesperata”, que se impôs como o mais importante produto artístico que sustenta a economia de Diamantina, desde então.
Em 2021,
ano em que a Banda de Música de Diamantina completa 130 anos de história, a
agremiação tem pela primeira vez, uma policial feminina como regente. A 2º Sgt
Adriana Regina Moreira, mais antiga praça especialista, ficou imbuída da função
após a passagem para a reserva altiva do ex-regente Ten Everton, hoje Capitão
QOR.
A Banda de
Música do 3º Batalhão da Polícia Militar destacou-se como a mais importante
instituição musical de Diamantina, durante todo o século XX. Funcionou como o
grande elo que trouxe, até os dias atuais, os reflexos do fenômeno musical
ocorrido no território mineiro no século XVIII. Portanto, pela história
singular brilhante, construída ao longo de seus 130 anos de existência, a Banda
de Música do 3º Batalhão da Polícia Militar já adquiriu, por direito, o status
de Patrimônio Cultural do Estado de Minas Gerais, um bem imaterial singular,
que tem de ser preservado e salvaguardado, para o conhecimento das gerações
pósteras.
Fonte:
Adaptado do artigo: “BANDA DE MÚSICA DO 3º BATALHÃO DA POLÍCIA MILITAR DE MINASGERAIS A MAIS ANTIGA CORPORAÇÃO MUSICAL MILITAR DO ESTADO” de autoria dohistoriador Wander Conceição.
No dia 20 de novembro celebra-se o dia da Consciência Negra. A data foi idealizada nos anos 1970 por um grupo de jovens universitários negros, que buscou por meio de estudos uma data que simbolizasse a luta negra. Assim, foi escolhido o dia da morte de Zumbi dos Palmares, líder do maior reduto de resistência à escravidão: o Quilombo dos Palmares.
A Lei 10.639 de 09 de janeiro de 2003, determinou a obrigatoriedade da inclusão da temática "História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo oficial da Rede de Ensino, e estabeleceu a inclusão do dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. Entretanto, a data só foi oficializada anos mais tarde, com a sanção da Lei 12.519, de 10 de novembro de 2011.
O Dia da Consciência Negra visa destacar o protagonismo da luta dos ex-escravizados por liberdade e gerar reflexão para as questões raciais. Promove sobretudo, o reconhecimento da importância da da população afro-brasileira na construção da sociedade, exercendo forte influência em nossa cultura, política, religião, gastronomia, entre outras áreas.
A Polícia Militar de Minas Gerais, na sua tradição de diversidade, destaca nessa oportunidade a figura do Major Antônio Lopes de Oliveira, primeiro comandante de Belo Horizonte. O militar foi reconhecido por sua austeridade e excepcional contribuição na promoção da segurança pública na nova capital, conforme estudo realizado pelo Major Francis Albert Cotta, historiador da PMMG, intitulado “Segurança Pública na construção de Belo Horizonte”.
Confira abaixo alguns trechos do estudo:
Confira o estudo completo em: https://www.policiamilitar.mg.gov.br/conteudoportal/uploadFCK/externo/04082021114702402.pdf
Fonte:
Gilmar Luciano Santos¹
Alguns historiadores apontam os Sumérios como os primeiros povos a constituírem exércitos organizados, mas a profissionalização militar aconteceu no Império Romano e com o Gregos.
Com a criação dos exércitos, surge a militarismo e, como consequência natural, os problemas relacionados à conduta ética e ao comportamento dos combatentes em face do inimigo e diante do cumprimento das ordens de treinamento.
Do militar exigia-se, e até hoje se exige, comportamento exemplar, ética, apresentação visual e abnegação sui generis, o que o tornava um ser humano diferenciado e, como diferenciado, alguém que deve ter seus atos analisados de maneira especial. Surge, então, a chamada Justiça Castrense, ou seja, aquela dos campos de batalha, ágil, proativa, capaz de manter a hierarquia, a disciplina e o dever militar acima da própria vida o combatente.
Segundo Célio Ferreira Romão (2009),
(...) o militarismo nasceu no ano de 142 a.C na Grécia Antiga, criado por Domus II, e tinha o objetivo de organizar as hostes subordinadas do rei, com obediência absoluta, pois, juravam, os componentes, servir dando a própria vida em favor da disciplina e hierarquia a que estavam subordinados.
Abstraindo-se o lapso temporal histórico, em 1808, após a chegada ao Brasil da Família Real Portuguesa, o Rei D. João VI, por meio d Alvará de 1º de abril, cria a Justiça Militar como o primeiro órgão jurisdicional brasileiro, mas ao "Poder Judiciário, através do Alvará de 1º de abril.
A primeira estrutura da Justiça Militar, no Brasil, foi o Conselho Supremo Militar, com sede na cidade do Rio de Janeiro, cuja competência inicial era a de processar e julgar os crimes militares praticados contra a "Colônia" e nos limites territoriais desta.
Com a Constituição de 1891, após a proclamação da República, o Conselho Supremo Militar passou a se denominar Supremo Tribunal Militar, mas ainda, como órgão do Poder Executivo e, a mencionada Carta Constitucional, instituiu os Conselhos de Justiça, com competência para julgar, em primeira instância, exclusivamente os crimes militares praticados por militares.
Com a Constituição de 1934, a Justiça Militar passou a integrar o Poder Judiciário, como ramo especializado do Direito, ao lado do Eleitoral e do Trabalhista.
Em 1936, a Lei Federal nº 192, de 17 de janeiro de 1936, autorizou a criação da Justiça Militar nos Estados-Membros da República, tendo sido constitucionalizada a mencionada previsão na norma do art. 124, XII, da Constituição de 1946.
A Justiça Militar em Minas Gerais foi criada por meio da Lei Estadual nº 226, de 9 de novembro de 1937, compondo-se, inicialmente, de um Juiz Auditor e dos Conselhos Especial e Permanente de Justiça.
Como naquela época (1937) não havia um órgão especializado de segunda instância, o então Tribunal Criminal do Estado, atual Tribunal de Justiça, fazia o papel recursal.
Portanto, a primeira Constituição da República que previu a Justiça Militar Estadual como órgão do Poder Judiciário dos Estados foi a de 1946. Atualmente, essa previsão está contida no art. 125 da Carta Magna de 1988.
Hoje, a Justiça Militar possui estrutura em âmbito da União (Justiça Militar da União), com a competência constitucional de julgar o crime militar, e estrutura estadual, cuja competência é de julgar o policial militar e o bombeiro militar quando cometerem o crime militar definido em lei.
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FONTE:
SANTOS, Gilmar Luciano. Prática Forense para o Juiz Militar. 2 ed. Belo Horizonte: Editora Inbradim, 2016.
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Em Outubro de 2021 foi realizado o I Simpósio Direito Militar na Caserna e na Sociedade, transmitido ao vivo pelo Youtube:
Na manhã do dia 27 de outubro de 2021 ocorreu no 1° Batalhão da Polícia Militar, uma solenidade em razão do centenário da visita da família real belga à Unidade no ano de 1920.
CARTA DO CAP. JOSÉ FORTES COUTINHO RELATANDOCOMO SE DEU A MORTE,EM COMBATE, DO TEN.-CEL. FULGÊNCIO SOUZA SANTOS
“Belo Horizonte, 20 de outubro de 1977. – Sr. Cel. Paulo René – Tive muito prazer em ler o seu livro "Três Revoluções", 1.° volume, e fiquei, sinceramente, emocionado ao relembrar fatos passados com a nossa velha P.M. e os nomes de tantos amigos e companheiros, alguns já mortos, que tanto lutaram pela nossa Corporação.Sabendo que o senhor vai publicar um segundo volume, sobre 1932, campanha da qual participei, tomei a liberdade de lhe enviar este pequeno relato, quanto à morte de um nosso bravo comandante, o Ten.-Cel. Fulgêncio de Souza Santos, fato que assisti, pois estava a poucos passos dele, quando foi ferido, na linha de frente do Túnel.Quando estourou a revolução paulista eu era um simples soldado (Praça n.º 5.704) – da 3.ª Companhia do 7.º Batalhão, em Bom Despacho, e segui com meu batalhão, comandado pelo Cel. Edmundo Lery Santos, para o Sul de Minas, o qual já se achava invadido pelos paulistas.Tão logo chegamos a Manacá, estação próxima do Túnel, fomos logo entrando em combate, pois que a tropa do nosso 3º Batalhão estava sendo flanqueada.Logo aí nosso comandante, digo, nosso subcomandante, o Major Valdemar Batista dos Santos, foi baleado quando atravessava um claro, no leito da via férrea, mas foi logo socorrido pelos padioleiros.Ficamos em combate permanente, em posições desvantajosas, pois nosso batalhão foi obrigado a tomar posição em terreno baixo enquanto os paulistas, na parte alta, nos castigavam com seu fogo constante.Nessa posição perdemos muitos companheiros, feridos e mortos, entre eles os colegas Nicanor Francisco Neves e Melvindo Rocha Fagundes.O Cel. Lery Santos, tendo sido designado Comandante da Brigada, passou o comando do batalhão ao Ten.-Cel. Fulgêncio, tendo este recebido ordens de preparar um avanço, notícia que não foi recebida com muito agrado por causa da desvantagem do terreno e a certeza de que iria haver muitas mortes.Na manhã em que o Cel. Fulgêncio foi baleado, fomos informados, pelo nosso Comandante de Pelotão, 2.º Tenente Santos Cavalcante, que o mesmo estava percorrendo toda a linha do flanco esquerdo do Túnel e que depois iria reunir os oficiais para determinar a hora do avanço.Pouco depois, de dentro da trincheira, eu e os colegas Augusto Filgueiras e Manoel Esteves do Sacramento, vimos o Cel. Fulgêncio, que vinha por uma "picada" que servia de ligação entre as trincheiras, o qual, de repente, agachou-se, permanecendo nessa posição.Eu então disse aos companheiros – "Parece que o nosso comandante foi baleado" – e saímos os três, correndo, até junto do coronel e eu perguntei-lhe se estava ferido e ele, agachado como estava, com as mãos no abdômen, confirmou que sim e pediu que não comentássemos para não alarmar a tropa.Mandei o Soldado Esteves chamar, urgente, o Ten. Cavalcante e, ajudado pelo Augusto Fonseca, carregamos o Cel. Fulgêncio até um ângulo morto do terreno.Depois, com mais outros soldados, tivemos que transportá-lo em padiola até Manacá, de onde foi transportado, em caminhão, para Passa Quatro, para ser operado. Ao colocar o Cel. Fulgêncio no caminhão, dele nos despedimos e, quando lhe apertei a mão, em despedida, vi quando dos seus olhos desceram lágrimas.De Manacá regressei à linha de frente, tendo antes passado no almoxarifado, recebendo um saco com oito bexigas de salame e algumas bisnagas de pão, para levar para os companheiros, pois a comida era escassa e difícil de levar.Três dias depois ficamos sabendo que nosso comandante havia falecido no Hospital de Passa Quatro.Eis um episódio, Coronel René, que acho que o Sr. gostará de incluir no seu próximo livro e que, apesar da simplicidade com que é narrado, merece ser publicado, pois que relembra a morte de um valente comandante e a bravura e a dedicação dos que constituíam a velha guarda da nossa P.M. e que tanto deram e fizeram para o seu justo renome.Com respeitosa estima e consideração, o Sub., camarada e amigo atencioso – (a) José Fortes Coutinho, Cap. P.M. QOR."
Art. 190. A promoção por ato de bravura dispensa outras exigências legais, sendo facultada a partir do evento.Parágrafo único. Em caso de falecimento será o oficial promovido “post mortem”.
Art. 216. A promoção por ato de bravura dispensa outras exigências legais, sendo facultada a partir do evento.Parágrafo único. Em caso de falecimento será a praça promovida “post mortem”.
Cel. Jair Cançado Coutinho – QOR
Comandante-Geral da PMMG : período de 1980 a 1983
UM CIRURGIÃO NO FRONT
O ingresso de Juscelino na Medicina deu-se no ano de 1922, na cidade de Belo Horizonte, através da Universidade Federal de Minas Gerais. O talento para o ofício de cirurgião foi notado. Segundo Bojunga (2001):
Os colegas perceberam logo a vocação de Juscelino para cirurgião. Chegaram a fazer uma quadrinha, aproveitando o nome do grande violonista tcheco Jan Kubelík, o pai de Rafael Kubelík: Dois nomes eu estou certo/Vão pôr este mundo em cheque/No violino Kubelík/No bisturi Kubistchek (BOJUNGA 2001, p. 73).
O bom desempenho no exercício da profissão fez com que Kubistchek logo adquirisse uma boa clientela em Belo Horizonte e isto possibilitou uma especialização em Paris, na qual foi aluno do doutor Maurice Chevassu, famoso urologista, além de estágios em Viena e em Berlim (COHEN, 2006).
A volta a Belo Horizonte deu-se no contexto do Governo Provisório de Getúlio Vargas, após a Revolução de 1930. Naquele momento, havia o intuito de melhoria da Polícia Militar do estado, à epoca Força Pública, através de ações do Secretário do Interior, Gustavo Capanema, decorrente da atuação dos militares estaduais em apoio ao movimento varguista de 1930. Destaca-se, nestas ações de Capanema, a reestruturação do Hospital da instituição.
Conforme Bojunga (2001):
Uma das providências de Capanema foi transformar o velho Hospital Militar em centro médico moderno, dotado de orçamento próprio e com uma equipe de médicos de renome. Embora o provimento dos cargos dependesse, em princípio de concurso, Capanema tinha em mente médicos de notória reputação que não se submeteriam a provas.
[...]
Um pedido de dona Luísa Lemos, mãe de Sarah, a Gabriel Passos, seu outro genro, incluiu Juscelino na lista dos nomeados. O marido de Sarah foi encarregado de organizar o Serviço de Laboratórios e Pesquisas, nos moldes do que vira na Europa, assumindo em seguida a chefia do Serviço de Urologia, no posto de capitão-médico (BOJUNGA, 2001, pp. 90 e 91).
O início de Juscelino na Força Pública Mineira foi decorrente, portanto, da atuação destacada como médico em Belo Horizonte e as capacidades seriam colocadas à prova durante os embates na Mantiqueira, ao lado dos combatentes mineiros que lutavam pelo controle do estratégico túnel.
Juscelino no Setor do Túnel
A necessidade da criação de uma subseção do Serviço de Saúde na região do Túnel foi decorrente, conforme descrição do responsável, major chefe, Dr J. Santa Cecília, da rude e intensa luta travada naquele local, que gerou atropelo e desorganização iniciais na assistência aos feridos (SANTOS,1933).
Neste cenário, com o acirramento das hostilidades, Juscelino partiu para a região do Túnel da Mantiqueira. Segundo Bojunga (2001):
No dia 16 de julho, Juscelino recebeu um telefonema anunciando que ele deveria embarcar às quatro da manhã na Estação do Horto, com o 1º Batalhão, sob o comando do tenente-coronel Francisco de Campos Brandão. Tinha seis meses de casado. A ração no três dias de viagem era à base da carne seca, que provocaca uma sede insuportável. Quando chegaram a Passa Quatro, no dia 18, a cidade já havia sido retomada pelo coronel Eurico Gaspar Dutra, mas a situação ainda era incerta (BOJUNGA, 2001, p. 98).
A estrutura do Serviço de Sáude daquele setor era composta por um Trem Hospital com raios x e Farmácia, Hospitais de Evacuação, transporte de doentes e Hospitais de Retaguarda (SANTOS, 1933). Ao chegar, recebeu como primeira missão do comandante, tenente-coronel Brandão, a instalação de um hospital do sangue, na Casa de Caridade, em Passa Quatro, que permitiu a organização de uma sala de operações.
Heliodoro (2005) descreve uma das atuações de Juscelino, mesmo sob condiçoes adversas, no hospital de sangue:
Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, o capitão-médico Dr. Juscelino Kubitschek tornou-se famoso por haver operado um sargento que, gravemente ferido, foi deixado ao abandono pelos médicos, em virtude da absoluta falta de recursos no Hospital de Sangue da Polícia Militar de Minas Gerais, no front da Mantiqueira, no início das operações bélicas naquela região, na cidade de Passa Quatro.
Juscelino entretanto, prontificou-se em atendê-lo, mesmo sem recursos, para não deixa o homem morrer sem assistência.
Acontece que o tal sargento, que já era considerado morto, ficou bom e em pouco tempo já estava andando (HELIODORO, 2005, p. 75).
A precariedade deste hospital reforça o desempenho de Juscelino no socorro aos feridos, pois não havia anestesia - a necessidade foi suprida pela atuação de um veterinário orientado pelo capitão-médico nem, tampouco, enfermaria, com o papel sendo desempenhado por uma freira, conforme FIGURA 1, que atuara na assistência religiosa, na 1ª Guerra Mundial, ao lado dos franceses (HELIODORO, 2005).
FIGURA 1 JK no Hospital de Sangue
FONTE: MAYRINK, 1988, p. 21.
Ainda sobre a atuação no Hospital do Sangue, Arruda (2016) descreve que Juscelino realizou por volta de mil atendimentos, entre pessoas enfermas, feridas e convalescentes, sem se preocupar em que lado lutavam, numa sala improvisada para cirurgia, com a utilização de clorofórmio como anestésico e recursos escassos, sempre com dedicação e louvor.
Segundo Santos (2003), apesar da imprecisão de alguns dados acerca dos atendimentos neste hospital, esse detalhe é irrelevante em relação à grande soma de trabalho realizada pelos doutores Pinto de Moura e Juscelino Kubistchek, ao assistirem grande massa de feridos, num hospital de emergência, sem secretaria organizada.
As condições do Hospital de Sangue fez com que parte dos atendimentos fossem transferidos para o Trem Hospital, trazido de Belo Horizonte, e colocado mais próximo ao front, nos dias finais de julho, conforme FIGURA 2. Contava, segundo relato do doutor J. Santa Cecília, major chefe do Serviço de Saúde daquele setor, com toda a aparelhagem sanitária, farmácia e raio x, além de uma equipe técnica competente (SANTOS, 2003).
FIGURA 2 JK nas proximidades do Trem Hospital
Fonte: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 1982, p. 43.
A melhoria substancial dos atendimentos ocorreria de fato com a chegada deste Trem, em que dois vagões foram transformados em sala de cirurgia, nos quais Juscelino atendia até mais de quarenta feridos por dia, não perdia a calma, tratava a todos com impecável educação, inteligência e discrição e se tornou destaque do Serviço de Saúde (MARQUES, 2002).
A soma das operações no Trem Hospital chegou a cinquenta e quatro, com o registro de cinquenta e um feridos. Entre essas operações, foram realizadas sete laparotomias cinco causadas por projéteis, uma por ferimento perfuro-cortante e uma por apendicite e, destas, quatro foram realizadas por Juscelino Kubistchek (COTTA, 2006).
A atuação foi destacada pelo tenente-coronel Magalhães Goés, então chefe do Serviço de Saúde da Força Pública Mineira. Segundo Santos (2012):
Cirurgião do Hospital de Passa-Quatro temperamento de slavo, calmo, modestíssimo, em extremo disciplinado, resistência de aço para, num só dia, socorrer mais de 40 feridos, sem se esfalfar, foi a grande revelação do Serviço de Saúde. Mostrou-se um ótimo cirurgião, um improvisador de meios para uma boa assistência aos grandes feridos de guerra, com impecável educação, inteligência e maneira discreta. O seu elogio pode ser resumido, transportando-se para aqui o pedido de oficiais do Exército que, ao partirem para a frente, solicitavam terem-no como cirurgião, no caso de ferimento em combate (SANTOS, 2012, p. 115).
Em meados de setembro, a batalha era favorável às tropas mineiras e, em carta a Gabriel Passos, oficial de gabinete de Olegário Maciel, Juscelino exaltou a atuação em um confronto decisivo contra os paulistas e classificou as ações dos soldados como heróicas, que tiveram como consequência o recuo das tropas inimigas (BOJUNGA, 2001).
O recuo, entre os dias 12 e 13 de setembro, ocorreu através de intensa movimentação no lado do túnel ocupado pelos paulistas que, na euforia da retirada, deixaram para trás diversos veículos, armamentos e equipamentos. A rendição ocorreu, conforme Santos (2016), no dia 03 de outubro, na cidade de Cruzeiro, após mais uma tentativa de cessar-fogo proposta pelos revoltosos.
O fim das hostilidades fez com que a Brigada em que Juscelino servia rumasse para o Setor Centro, em apoio à Brigada Amaral. Em decorrência, o capitão-médico foi responsável pela remoção de feridos de Passa Quatro para Guaxupé e Varginha e, posteriormente, dirigiu-se até a cidade de Campinas, para o quartel-general do comandante Barcellos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os quase dois meses de participação de Juscelino na Batalha do Túnel foram responsáveis por inseri-lo num ambiente diverso daquele em que atuava rotineiramente no Hospital da Força Pública, em Belo Horizonte, decorrente da hostilidade e precariedade presentes no cenário em que foi obrigado a atender e operar.
A atuação é destacada justamente por ter sido realizada de maneira abnegada e eficiente, mesmo sem a existência completa de recursos necessários, comprovada por dados que demonstram a quantidade de combatentes assistidos pelo médico mineiro, durante o tempo em que permaneceu na região do conflito, considerado como a grande novidade naquela batalha, decorrente da segurança e dos bons cuidados médicos, nas palavras de um dos biógrafos, Affonso Heliodoro.
Na História da Polícia Militar de Minas Gerais, à época dos acontecimentos conhecida como Força Pública, a referência de Juscelino como membro dessa Corporação parece sempre remontar à participação na Revolução Constitucionalista de 1932, em obras publicadas pela instituição, como a produzida pelos alunos do Curso de Formação de Soldados¹, ligadas a ela ou de autores independentes, nas quais há destaque para a contribuição à combatividade das tropas mineiras empregadas no front.
A trajetória de Juscelino na Mantiqueira rendeu a ele alcunha de bisturi de ouro pela instituição, além da nomeação do Hospital da Polícia Militar como Hospital Juscelino Kubistchek de Oliveira. Apesar do cirurgião-médico ter alcançado o posto de coronel, mais um dos indícios da importância e reconhecimento, a atuação no Túnel foi seguida do início da trajetória política, em 1933, após a nomeação como chefe de gabinete de Benedito Valadares, interventor de Getúlio Vargas, nas Minas Gerais.
O artigo pode servir de referência, portanto, para estudos posteriores acerca da participação de Juscelino como médico das tropas mineiras, além da possibilidade da relação entre esta atuação e o início da vida política, que resultaria no alcance da Presidência da República, na década de 50.
REFERÊNCIAS
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ARRUDA, Lauro. Juscelino Kubistchek (JK): o médico que virou Presidente da República. Disponível em: https://www.hospitaldocoracao.com.br/wp-content/uploads/2016/01/juscelino-kubistchek.pdf/ Acesso em 03 de fevereiro de 2019.
BOJUNGA, Cláudio. O artista do impossível. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, 800 p.
BRASIL. Decreto nº. 13398, de 11 de novembro de 1930. Institue o Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, e dá outras providências. Rio de Janeiro: Diário Oficial da União, 1930.
CAPELATO, Maria Helena. O Movimento de 1932: a causa paulista. São Paulo: Brasiliense, 1981, 89 p.
COHEN, Marleine. JK. São Paulo: Globo, 2006, 111 p.
COTTA, Francis Albert. Breve história da Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte: Crisálida, 2006, 168 p.
DONATO, Hernâni. História da Revolução de 32. São Paulo: IBRASA, 2002, 153 p.
FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930: historiografia e história. 16 ed. São Paulo: Companhia da Letras, 2010, 82 p.
FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista: Paulo Duarte e a Guerra Civil de 1932. 2009. 136 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2009.
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Revolução de 32: a fotografia e a política. Rio de Janeiro, 1982, 62 p.
HELIODORO, Afonso. JK: exemplo e desafio. 2 ed., rev. e aumentada. Brasília: Thesaurus, 2005, 282 p.
MARCO FILHO, Luiz de. História Militar da PMMG. 7. ed. Belo Horizonte: Centro de Pesquisa e Pós-graduação PMMG, 2005, 151 p.
MARQUES, Rita de Cássia. JK, de médico a político. In:___. JK: o estadista da modernidade, 1902 2002. Belo Horizonte: CEMIG, 2002. Não paginado.
MAYRINK, Geraldo. Os grandes líderes: Juscelino. São Paulo: Nova Cultural, 1988, 112 p.
MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Boletim n. 1. Belo Horizonte, 1932.
NUNES, Vanessa. Revolução Constitucionalista de 1932: articulações de um movimento. 2005. 27 f. Artigo (Pós-graduação em História: sociedade e cultura brasileira) Universidade Paranaense, Cascavel, 2005.
POLICIAIS militares protagonistas da História. Belo Horizonte: O lutador, 2016, 250 p.
RODRIGUES, João Paulo. O levante constitucionalista de 1932 e a força da tradição: do confronto bélico à batalha pela memória (1932 1943). 2009. 349 f. Tese (Doutorado em História) Universidade Estadual Paulista, Assis, 2009.
SANTOS, Edmundo Lery. Movimento de 9 de julho de 1932. Imprensa Oficial de Minas Gerais: Belo Horizonte, 1933, 306 p.
SOARES, Júlio César Fidelis. Calibre 32: Resende em armas. Disponível em: <https://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/CALIBRE32.pdf/> Acesso em: 02 de novembro de 2018.
Jamicel Francisco Rocha da Silva
jamilico@gmail.com