30 novembro, 2021

Viaturas históricas da PMMG resgatam memória em mostra na Praça da Liberdade


Quem passou pela Praça da Liberdade e arredores, até o início da tarde desta terça-feira (30/11), pôde conferir a "Mostra de Viaturas Históricas", que a Polícia Militar de Minas Gerais expôs. Foram quatro viaturas e uma moto, cujo modelos, pinturas e cores retratam um pouco da história da corporação. Para uns, foi a chance de conhecer viaturas diferentes das que circulam hoje, e para outros, a oportunidade de relembrar a frota que servia ao policiamento das décadas de 70 e 80. 
 
Os quatro modelos de viaturas, que estão funcionando plenamente, foram um atrativo a mais para pessoas de todas as idades que puderam entrar, sentar, fotografar e até buzinar os veículos. O evento contou com a participação do Quarteto de Madeira da Banda de Música da Polícia Militar que fez quem estava passando diminuir o passo, parar e até sentar na grama para apreciar a música na praça. 
 
O comandante-geral da PMMG, coronel Rodrigo Sousa Rodrigues, visitou a mostra e entrou nas viaturas. 
 
“Eventos assim são um atrativo para que as pessoas conheçam a história da instituição, mas se divirtam também. Algumas dessas viaturas foram restauradas por militares e até mesmo civis, e se tornaram relíquias para a Polícia Militar. Nossos veículos evoluíram e a gente também, trazendo segurança para o povo mineiro e para quem nos visitar, nessa retomada de eventos culturais e do turismo”, afirmou coronel Rodrigo. 
 
A mostra foi organizada pela Seção de Memória e Patrimônio Histórico-Cultural da Polícia Militar, em parceria com a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult). Eventos como esse vão ocorrer novamente, inclusive com nova mostra das viaturas históricas. 





 

Autor: Killzy Lucena - Sala de Imprensa PMMG


Confira as reportagens sobre o evento: 






 

22 novembro, 2021

 

22 de Novembro dia do Músico!

 

Hoje comemora-se o dia do músico! Em homenagem a todos esses profissionais, falaremos um pouco sobre a Banda de Música do 3º Batalhão da PMMG, mais antiga agremiação musical da Polícia Militar de Minas Gerais, que em 2021 completa 130 anos.

               


Pelos registros históricos sabe-se que desde a antiguidade as Bandas de Música tiveram ligação com os exércitos, pois devido à grande projeção sonora de seus instrumentos, foram usados para a comunicação e evolução dos corpos militares dentro dos quartéis e nos campos de batalha.


Diversos autores dizem que as bandas de música tem origem na Alemanha no século XVII, quando as mesmas ainda se constituíam de instrumentos como oboés e fagotes, fazendo parte da vida militar. No Brasil as primeiras notícias que se tem sobre a constituição de bandas datam apenas após a vinda da Família Real Portuguesa, em 1808. Dos quatro Corpos Militares criados em Minas Gerais no ano de 1890, apenas o de Diamantina permaneceu na mesma sede e manteve atividades ininterruptas até a atualidade.

 

A Banda de Música do 3º Batalhão, sediada em Diamantina, foi criada de forma oficiosa, em 1891, pelo militar músico, Sargento João Batista Teixeira. Posteriormente, tornou-se oficial, como outras tantas bandas, que foram sendo criadas em outros batalhões da Polícia Militar de Minas Gerais. Para organizá-la, João Batista Teixeira recrutou músicos das bandas civis Corão e Corinho. Por ter se preservado desde o início da República, não obstante tenha passado por algumas fases de inatividade em dado momento específico, como durante os períodos revolucionários de 1930 e 1932, a Banda de Música do 3º Batalhão da Polícia Militar é a mais antiga corporação musical militar do Estado de Minas Gerais.

 

Habitualmente, a Banda de Música do 3º Batalhão sempre foi parte integrante das festas religiosas, com vários de seus músicos executando os cantos dos ritos litúrgicos, os motetos, ofertórios, ladainhas etc, no interior dos templos. Também esteve ligada à produção música para o entretenimento da sociedade: uma das manifestações culturais mais frequentes, e que permaneceu por período longevo em Diamantina, foi a apresentação de retretas, que eram concertos populares realizados em praça pública, muitas vezes nos coretos erguidos em várias cidades mineiras para abrigarem as bandas. A Banda de Música do 3º Batalhão deu continuidade a essa cultura, herdada das bandas civis anteriores. O apogeu dessas retretas ocorreu durante as décadas de 1930 e 1940.

 


Na década de 1990, quando Diamantina se candidatou ao título de Patrimônio Cultural da Humanidade, formou-se uma comissão composta por diversas pessoas de notório saber, para elaborar um ensaio histórico estratégico, sobre o qual o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) pudesse desenvolver um dossiê com as justificativas oficiais da candidatura, para ser entregue à UNESCO. Entre essas pessoas estava o monsenhor Walter de Almeida, oficial capelão do 3º Batalhão da Polícia Militar, grande conhecedor tanto da história da Polícia quanto da Igreja Católica. Suas indicações foram determinantes para a definição das justificativas.

 

A necessidade de preservação dessa musicalidade singular para conhecimento das gerações futuras se consagrou como um dos argumentos fortes que pesaram, com muito vigor, para que Diamantina recebesse o título universal. Nesse sentido, o monsenhor Walter de Almeida sugeriu a volta da Banda de Música do 3º Batalhão para as sacadas da cidade, como atração cultural a ser recuperada e oferecida dentro do novo contexto que se delineava. Era de seu conhecimento a tradição da banda executar a fantasia La Mezza Notte, popularmente conhecida como “O Anjo da Meia Noite”, durante as retretas realizadas em Diamantina, com grande frequência, nas décadas de 1930 e 1940.

 

Enviado o ensaio histórico estratégico para o IPHAN, e estando a cidade em plena campanha para aquisição do título junto à UNESCO, o Ministério da Cultura marcou o lançamento do Programa Nacional de Turismo Cultural para o dia 16 de agosto de 1997, em Diamantina. Surgia aí a grande oportunidade dos músicos militares retornarem para as sacadas, celebrando a hora vesperal, conforme tradição iniciada pelo maestro Piruruca em tempos remotos, quando ainda não havia luz elétrica na cidade. Para aquela apresentação, que acabou acontecendo no período noturno, a Banda Mirim, mantida pela prefeitura, uniu- se à Banda de Música do 3o. Batalhão. Desse modo, a manifestação cultural conhecida como “O Anjo da Meia Noite”, acabou transformando-se no atrativo turístico denominado “Vesperata”, que se impôs como o mais importante produto artístico que sustenta a economia de Diamantina, desde então.






Em 2021, ano em que a Banda de Música de Diamantina completa 130 anos de história, a agremiação tem pela primeira vez, uma policial feminina como regente. A 2º Sgt Adriana Regina Moreira, mais antiga praça especialista, ficou imbuída da função após a passagem para a reserva altiva do ex-regente Ten Everton, hoje Capitão QOR.

 


A Banda de Música do 3º Batalhão da Polícia Militar destacou-se como a mais importante instituição musical de Diamantina, durante todo o século XX. Funcionou como o grande elo que trouxe, até os dias atuais, os reflexos do fenômeno musical ocorrido no território mineiro no século XVIII. Portanto, pela história singular brilhante, construída ao longo de seus 130 anos de existência, a Banda de Música do 3º Batalhão da Polícia Militar já adquiriu, por direito, o status de Patrimônio Cultural do Estado de Minas Gerais, um bem imaterial singular, que tem de ser preservado e salvaguardado, para o conhecimento das gerações pósteras.

 

 

Fonte: Adaptado do artigo: “BANDA DE MÚSICA DO 3º BATALHÃO DA POLÍCIA MILITAR DE MINASGERAIS A MAIS ANTIGA CORPORAÇÃO MUSICAL MILITAR DO ESTADO” de autoria dohistoriador Wander Conceição.

 


 

20 novembro, 2021

20 de novembro: Dia da Consciência Negra

No dia 20 de novembro celebra-se o dia da Consciência Negra. A data foi idealizada nos anos 1970 por um grupo de jovens universitários negros, que buscou por meio de estudos uma data que simbolizasse a luta negra. Assim, foi escolhido o dia da morte de Zumbi dos Palmares, líder do maior reduto de resistência à escravidão: o Quilombo dos Palmares.

A Lei 10.639 de 09 de janeiro de 2003, determinou a obrigatoriedade da inclusão da temática "História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo oficial da Rede de Ensino, e estabeleceu a inclusão do dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. Entretanto, a data só foi oficializada anos mais tarde, com a sanção da Lei 12.519, de 10 de novembro de 2011.

O Dia da Consciência Negra visa destacar o protagonismo da luta dos ex-escravizados por liberdade e gerar reflexão para as questões raciais. Promove sobretudo, o reconhecimento da importância da da população afro-brasileira na construção da sociedade, exercendo forte influência em nossa cultura, política, religião, gastronomia, entre outras áreas.

A Polícia Militar de Minas Gerais, na sua tradição de diversidade, destaca nessa oportunidade a figura do Major Antônio Lopes de Oliveira, primeiro comandante de Belo Horizonte. O militar foi reconhecido por sua austeridade e excepcional contribuição na promoção da segurança pública na nova capital, conforme estudo realizado pelo Major Francis Albert Cotta, historiador da PMMG, intitulado “Segurança Pública na construção de Belo Horizonte”.

Confira abaixo alguns trechos do estudo:









Confira o estudo completo em: https://www.policiamilitar.mg.gov.br/conteudoportal/uploadFCK/externo/04082021114702402.pdf


Fonte:

Agência Senado

09 novembro, 2021

09 de novembro de 2021: 84 anos do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais

HISTÓRICO DA JUSTIÇA MILITAR

Gilmar Luciano Santos¹


O militarismo, seus costumes e o próprio Direito Militar remontam períodos anteriores a Cristo.

Alguns historiadores apontam os Sumérios como os primeiros povos a constituírem exércitos organizados, mas a profissionalização militar aconteceu no Império Romano e com o Gregos.

Com a criação dos exércitos, surge a militarismo e, como consequência natural, os problemas relacionados à conduta ética e ao comportamento dos combatentes em face do inimigo e diante do cumprimento das ordens de treinamento.

Do militar exigia-se, e até hoje se exige, comportamento exemplar, ética, apresentação visual e abnegação sui generis, o que o tornava um ser humano diferenciado e, como diferenciado, alguém que deve ter seus atos analisados de maneira especial. Surge, então, a chamada Justiça Castrense, ou seja, aquela dos campos de batalha, ágil, proativa, capaz de manter a hierarquia, a disciplina e o dever militar acima da própria vida o combatente.

Segundo Célio Ferreira Romão (2009),

(...) o militarismo nasceu no ano de 142 a.C na Grécia Antiga, criado por Domus II, e tinha o objetivo de organizar as hostes subordinadas do rei, com obediência absoluta, pois, juravam, os componentes, servir dando a própria vida em favor da disciplina e hierarquia a que estavam subordinados.

Abstraindo-se o lapso temporal histórico, em 1808, após a chegada ao Brasil da Família Real Portuguesa, o Rei D. João VI, por meio d Alvará de 1º de abril, cria a Justiça Militar como o primeiro órgão jurisdicional brasileiro, mas ao "Poder Judiciário, através do Alvará de 1º de abril.

A primeira estrutura da Justiça Militar, no Brasil, foi o Conselho Supremo Militar, com sede na cidade do Rio de Janeiro, cuja competência inicial era a de processar e julgar os crimes militares praticados contra a "Colônia" e nos limites territoriais desta.

Com a Constituição de 1891, após a proclamação da República, o Conselho Supremo Militar passou a se denominar Supremo Tribunal Militar, mas ainda, como órgão do Poder Executivo e, a mencionada Carta Constitucional, instituiu os Conselhos de Justiça, com competência para julgar, em primeira instância, exclusivamente os crimes militares praticados por militares.

Com a Constituição de 1934, a Justiça Militar passou a integrar o Poder Judiciário, como ramo especializado do Direito, ao lado do Eleitoral e do Trabalhista.

Em 1936, a Lei Federal nº 192, de 17 de janeiro de 1936, autorizou a criação da Justiça Militar nos Estados-Membros da República, tendo sido constitucionalizada a mencionada previsão na norma do art. 124, XII, da Constituição de 1946.

A Justiça Militar em Minas Gerais foi criada por meio da Lei Estadual nº 226, de 9 de novembro de 1937, compondo-se, inicialmente, de um Juiz Auditor e dos Conselhos Especial e Permanente de Justiça.

Como naquela época (1937) não havia um órgão especializado de segunda instância, o então Tribunal Criminal do Estado, atual Tribunal de Justiça, fazia o papel recursal.

Portanto, a primeira Constituição da República que previu a Justiça Militar Estadual como órgão do Poder Judiciário dos Estados foi a de 1946. Atualmente, essa previsão está contida no art. 125 da Carta Magna de 1988.

Hoje, a Justiça Militar possui estrutura em âmbito da União (Justiça Militar da União), com a competência constitucional de julgar o crime militar, e estrutura estadual, cuja competência é de julgar o policial militar e o bombeiro militar quando cometerem o crime militar definido em lei.


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1. Gilmar Luciano Santos é Coronel, Diretor de Comunicação Organizacional, da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG),  bacharel em Ciências Militares pela Academia de Polícia de Minas Gerais, trabalhou por sete anos no Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) no qual atuou como negociador em ocorrências com reféns localizados durante cinco anos. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), especialista em Direito Público pela Associação Nacional dos Magistrados Estaduais (Anamages), Especialista em Segurança Pública pela Fundação João Pinheiro / Academia da Polícia Militar, Mestrando em Administração na Fundação Pedro Leopoldo (FPL) e membro na Academia de Letras da PMMG João Guimarães Rosa. É Professor de oratória e criador do Centro de Oratória Gilmar Luciano. Prepara os alunos para sustentações orais, entrevistas, palestras e seminários utilizando as ferramentas da Programação Neurolinguística e Psicanálise. Trabalha como consultor nas áreas de defesa pessoal, chefia e liderança, motivação sucesso, atendimento ao cliente e em gerenciamento de crises.


FONTE: 

SANTOS, Gilmar Luciano. Prática Forense para o Juiz Militar. 2 ed. Belo Horizonte:  Editora Inbradim, 2016.


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Em Outubro de 2021 foi realizado o I Simpósio Direito Militar na Caserna e na Sociedade, transmitido ao vivo pelo  Youtube:


https://youtu.be/rIfJNQaPH7I


Assista a cerimônia comemorativa realizada no dia 05 de novembro de 2021:


  

28 outubro, 2021

Centenário da Visita real belga ao 1º BPM

Na manhã do dia 27 de outubro de 2021 ocorreu no 1° Batalhão da Polícia Militar, uma solenidade em razão do centenário da visita da família real belga à Unidade no ano de 1920.

Devido às  restrições impostas pela pandemia do COVID-19, a cerimônia foi realizada neste ano, e contou com a presença do embaixador da Bélgica no Brasil, o Sr. Patrick Herman e do Cônsul Geral da Bélgica,  o Sr. Daniel Dargent. Também estiveram  presentes o comandante-geral da PM, Coronel Rodrigo Sousa Rodrigues, o comandante da 1ª Região da PM, Coronel Webster Wadin Passos Ferreira de Souza, e o Comandante do 1º BPM, Tenente-Coronel Alexandre Barboza de Oliveira.

Na oportunidade, foi inaugurado um busto de bronze, do rei Alberto I, de autoria do artista plástico José Synfronini de Freitas Castro e idealizado pelo Doutor Marcos Henrique Caldeira Brant do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.

HISTÓRIA

A visita do rei Alberto I, da rainha Elisabeth  da Bélgica e de seu filho o príncipe herdeiro Leopoldo (mais tarde rei Leopoldo III),  foi a primeira visita de uma família real europeia ao Brasil após a Proclamação da República,  e representou um grande marco na história da capital mineira, cuja inauguração havia ocorrido a pouco mais de duas décadas. 


No dia 3 Outubro de 1920 às 9h, o rei Alberto I, acompanhado pelo presidente da República, Epitácio Pessoa, e o governador de Minas Gerais, Artur Bernardes, visitou o Quartel da Força Pública de Belo Horizonte, atualmente,  primeiro Batalhão da Polícia Militar.

O monarca era conhecido  como o “Rei-herói” e o “Rei-soldado”, pois resistiu bravamente às agressões alemãs no início da Primeira Guerra, assumindo o comando de suas tropas no campo de batalha. Deixou registrada na história a célebre frase em resposta aos alemães que desejavam mover seus soldados através de seu país: “A Bélgica é uma nação, não uma estrada". Recebê-lo em 1920 foi motivo de grande honra, uma vez que era uma das figuras internacionais mais importantes da época. 

A família real desembarcou na estação ferroviária no centro de Belo Horizonte, mediante grande aclamação popular.  Ficaram hospedados no Palácio da Liberdade,  que foi reformado e recebeu nova mobília.  A praça da Liberdade também foi remodelada, e ganhou ares parisienses inspirados nos jardins de Versalhes.




A vinda dos Reis belgas ao Brasil teve como consequência o estreitamento dos laços entre os dois países, culminando na criação da Companhia Belgo Mineira em 1921.

PRIMEIRO BATALHÃO DA POLÍCIA MILITAR

A construção do majestoso quartel onde hoje está instalado o 1º BPM foi iniciada em março de 1987, na Praça de Belo Horizonte, hoje Praça Marechal Floriano Peixoto.

A imponência e a solidez do prédio do Primeiro Batalhão de Policia Militar, com o traçado arquitetônico consoante a seu uso e função social, são valorizadas ao mesmo tempo pela beleza de uma área de lazer fronteiriça, conferida pela Praça Marechal Floriano Peixoto. A construção foi feita como uma fortaleza capaz de resguardar a tropa com locais estratégicos para a defesa e também para a resposta ao inimigo, como as inúmeras clarabóias dispostas em toda a sua extensão e de onde os soldados poderiam acionar as metralhadoras. A parede da fachada foi erguida num maciço de 1.10 metros de espessura, enquanto as outras possuem 70 cm.

O objetivo era o de resistir aos ataques, até mesmo de disparos de canhão. O ex-Governador do Estado, Tancredo Neves, assinou o documento de tombamento do conjunto arquitetônico formado pela Praça Floriano Peixoto e pelo prédio do Quartel do 1º Batalhão , em agosto de 1984, antes de deixar o governo para se candidatar à presidência da República. Durante mais de um século de existência, muitas foram as provações e necessidades vividas pelo Batalhão, que teve que se adequar aos novos tempos, aliando sua tradicional doutrina aos novos recursos tecnológicos disponíveis.

 O tradicional e o moderno aliados de forma harmônica fazem com que o secular “BG” jamais perca sua identidade e continue sendo um símbolo para toda sociedade Belo Horizontina, confundindo-se com a própria história da cidade.  




MEMORIAL DO 1° BATALHÃO

De forma conjunta às solenidades  realizadas no dia 27 de outubro de 2021, foi inaugurado o Memorial do Primeiro Batalhão,  que tem por objetivo registrar a história da unidade por meio de objetos e itens documentais. A mostra especial reuniu o acervo de vários períodos da história da PMMG, que em 2021 completou 246 anos.

Foi apresentado ao público, no espaço cultural do 1º BPM, um quadro histórico produzido pelo pintor tenente veterano Almir Jaci Monteiro, que retrata a ocasião da visita da realeza belga ao 1ºBPM. 


Logo após foi inaugurada uma placa vocatiova, em bronze, comemorativa ao centenário alusivo a esta visita.


O embaixador da Bélgica,  Sr. Patrick Herman, foi recebido no memorial pelo Comandante-Geral da Polícia Militar,  Coronel Rodrigo Sousa Rodeia e pelo comandante da Unidade, o Tenente-Coronel Alexandre Barboza de Oliveira. O historiador Sgt. Farias, integrante da comissão responsável pela criação do espaço e a equipe da Seção de Memória e Patrimônio Histórico-cultural da PMMG acompanharam o embaixador pela exposição e contaram um pouco da trajetória do Batalhão até os dias atuais. 



Fontes:

http://www.belgianclub.com.br/pt-br

https://www.policiamilitar.mg.gov.br/portal-pm/noticiaspoliciais/noticiaspoliciais/conteudo.action?conteudo=236911&tipoConteudo=noticia

https://www.policiamilitar.mg.gov.br/portal-pm/1bpm/conteudo.action?conteudo=617&tipoConteudo=itemMenu

15 outubro, 2021

PALAVRAS DE UM COMANDANTE: A Promoção dos Revolucionários de 1924, 1930 e 1932

           Outubro/2021 – 40 anos da sanção da Lei n. 8.070, de 3/10/81


Corramos para as bandas do oeste mineiro, agora de carro, pela BR 262, toda asfaltada, e, após mais ou menos duas horas, avistaremos, à nossa direita, uma grandiosa e majestosa matriz, anunciando que estamos chegando à cidade de Bom Despacho. Hoje é uma cidade de médio para grande porte, com um comércio intenso, com grande movimento de carros e caminhões, movimentada, agitada, com semáforos para todo o lado, com muitos prédios e economia forte e crescente. Nem sempre, porém, foi assim. Na minha infância, era uma cidadezinha bucólica, pacata, onde todos se conheciam, e a criançada, de pés descalços, peito e braços nus, corria pelas ruas não asfaltadas, fazendo aquelas travessuras próprias da idade e de uma infância feliz.

É desta cidadezinha bucólica, que, graças ao trabalho e a dedicação de seus munícipes, vai tornando-se grande, que sempre me foi e continua sendo muito querida, que eu venho.

Venho, pois, da Cruz do Monte, da Tabatinga, do Campinho do Candinho, da Rua do Céu. Venho da Praça da Matriz, onde reinava, majestosa, a bonita igreja, dedicada à Nossa Senhora do Bom Despacho, da Rua do Rosário – onde tomei água da biquinha –, da Rua da Fábrica, do Açude e da Estação da Rede Mineira Viação (RMV) onde fazia peripécias perigosas; enfim, de muitos outros lugares, que ainda me são gratos à memória.

Venho do “Grupo Escolar Cel. Praxedes” – único grupo que havia na cidade –, onde estudei e tive a melhor professora dentre todos os cursos que fiz, quer aqui, quer no exterior, e de cujo nome me relembro sempre com saudade e muita gratidão: Professora Zulma Correa Lacerda. Além de ser a melhor professora, ela era sábia e enérgica, mas, sobretudo, solidária, amiga e ajudava seus alunos, em todos os sentidos. Sempre que viajava à Bom Despacho, mesmo como Comandante-Geral, ia a sua casa fazer-lhe uma visita e render-lhe minhas homenagens.

Venho, sobretudo, da Vila Militar, em cujo portão das armas cintilava o dístico: 7º Batalhão de Caçadores Mineiros (7º BCM).

A Vila Militar tinha um terreno amplo e era muito bem cuidada. Registro o majestoso e principal prédio, cuja miniatura me foi ofertada, em comovente homenagem, que a generosidade do bom amigo, Cel. Gentil Alberto de Menezes, me prestou, em nome da guarnição de Bom Despacho. Registro, ainda, as instalações das Companhias, uma pracinha ajardinada, com um coreto, onde meninas e meninos brincavam, os bangalôs, destinados à moradia dos oficiais, no fim dos quais havia uma capela, destinada à Santa Efigênia dos Militares, e logo abaixo as casas destinadas à moradia dos praças e, ao lado, extra muros, um campinho, onde os meninos, com os pés descalços, arrancavam tocos, jogando futebol com bolas de meia.

O importante, porém, para o tema que abordo, é que nós, os meninos da época, tínhamos acesso irrestrito às dependências do Batalhão. Ninguém nos impedia. Às vezes, um ou outro ouvia um “sai daqui, menino”. Todos se conheciam e sabiam quem era filho de quem.

Assim, eu ia ouvindo daqueles policiais militares as histórias da sua participação e da bravura do 7º Batalhão na Revolução de 1932. Falavam que, chegando ao local, entraram logo em combate e que balas ricocheteavam por todos os lados. Falavam de companheiros mortos e feridos, da morte do Comandante do Batalhão, das dificuldades e dos perigos que enfrentaram.

A barbearia era o meu ponto preferido. Costumava sentar-me lá e, “de olhos arregalados”, ouvir aquelas histórias, umas até mais pormenorizadas. Cheguei, inclusive, a ouvir comentários, entre os militares que ali frequentavam, de que haveria uma promoção extra para todos os elementos da Corporação, que teriam participado da Revolução, o que não aconteceu.

Interpelava, às vezes, meu pai, sobre o assunto, e ele me dizia, superficialmente, que os fatos eram reais, que eles passaram por muitos perigos e dificuldades e que muitos companheiros tinham-se ferido e muitos morreram.

Saí de Bom Despacho para estudar. Entrei para a Polícia Militar de Minas Gerais, fiz toda a minha carreira, encerrando-a como juiz do Tribunal de Justiça Militar.

Hoje, graças ao bom Deus e à Nossa Senhor Mãe dos Homens da Serra do Caraça, onde estudei, estou eu aqui para alinhavar essas despretensiosas considerações sobre fato importante e emocionante do meu comando, ou seja, como conseguimos a promoção dos  revolucionários de 1924, 30 e 32.

Já era eu oficial, tenente-coronel, talvez, quando, certo dia, me apareceu meu pai, dizendo-me que queria escrever uma carta ao Cel. Paulo René de Andrade, que estaria escrevendo um livro sobre a Revolução de 1932. Consultou-me se seria inconveniente encaminhar a carta. Li-a. Disse-lhe, então, que não via inconveniente algum, mesmo porque os fatos eram reais e o Cel. René era um ótimo historiador e caberia a ele a conveniência, ou não, de colocar a carta em seu livro e o que ele decidisse estaria bem decidido. Não tirei nem acrescentei uma vírgula sequer na carta. A redação é pessoal e toda dele.

Essa carta está publicada à página 397 do Vol. II do livro “As Três Revoluções”, do Cel. Paulo René de Andrade, no subtítulo “Anexos”, pág. 379, que contém vários documentários e relatos sobre o evento.

Tomo a liberdade de transcrever aqui, ipsis litteris, como um justo e filial culto à memoria de meu pai, simples soldado da 3ª Cia do 7º Batalhão de Bom Despacho.

 
CARTA DO CAP. JOSÉ FORTES COUTINHO RELATANDO 
COMO SE DEU A MORTE, 
EM COMBATE, DO TEN.-CEL. FULGÊNCIO SOUZA SANTOS

 

“Belo Horizonte, 20 de outubro de 1977. – Sr. Cel. Paulo René – Tive muito prazer em ler o seu livro "Três Revoluções", 1.° volume, e fiquei, sinceramente, emocionado ao relembrar fatos passados com a nossa velha P.M. e os nomes de tantos amigos e companheiros, alguns já mortos, que tanto lutaram pela nossa Corporação. 

Sabendo que o senhor vai publicar um segundo volume, sobre 1932, campanha da qual participei, tomei a liberdade de lhe enviar este pequeno relato, quanto à morte de um nosso bravo comandante, o Ten.-Cel. Fulgêncio de Souza Santos, fato que assisti, pois estava a poucos passos dele, quando foi ferido, na linha de frente do Túnel. 

Quando estourou a revolução paulista eu era um simples soldado (Praça n.º 5.704) – da 3.ª Companhia do 7.º Batalhão, em Bom Despacho, e segui com meu batalhão, comandado pelo Cel. Edmundo Lery Santos, para o Sul de Minas, o qual já se achava invadido pelos paulistas.

Tão logo chegamos a Manacá, estação próxima do Túnel, fomos logo entrando em combate, pois que a tropa do nosso 3º Batalhão estava sendo flanqueada. 

Logo aí nosso comandante, digo, nosso subcomandante, o Major Valdemar Batista dos Santos, foi baleado quando atravessava um claro, no leito da via férrea, mas foi logo socorrido pelos padioleiros. 

Ficamos em combate permanente, em posições desvantajosas, pois nosso batalhão foi obrigado a tomar posição em terreno baixo enquanto os paulistas, na parte alta, nos castigavam com seu fogo constante. 

Nessa posição perdemos muitos companheiros, feridos e mortos, entre eles os colegas Nicanor Francisco Neves e Melvindo Rocha Fagundes. 

O Cel. Lery Santos, tendo sido designado Comandante da Brigada, passou o comando do batalhão ao Ten.-Cel. Fulgêncio, tendo este recebido ordens de preparar um avanço, notícia que não foi recebida com muito agrado por causa da desvantagem do terreno e a certeza de que iria haver muitas mortes. 

Na manhã em que o Cel. Fulgêncio foi baleado, fomos informados, pelo nosso Comandante de Pelotão, 2.º Tenente Santos Cavalcante, que o mesmo estava percorrendo toda a linha do flanco esquerdo do Túnel e que depois iria reunir os oficiais para determinar a hora do avanço.

Pouco depois, de dentro da trincheira, eu e os colegas Augusto Filgueiras e Manoel Esteves do Sacramento, vimos o Cel. Fulgêncio, que vinha por uma "picada" que servia de ligação entre as trincheiras, o qual, de repente, agachou-se, permanecendo nessa posição. 

Eu então disse aos companheiros – "Parece que o nosso comandante foi baleado" – e saímos os três, correndo, até junto do coronel e eu perguntei-lhe se estava ferido e ele, agachado como estava, com as mãos no abdômen, confirmou que sim e pediu que não comentássemos para não alarmar a tropa. 

Mandei o Soldado Esteves chamar, urgente, o Ten. Cavalcante e, ajudado pelo Augusto Fonseca, carregamos o Cel. Fulgêncio até um ângulo morto do terreno. 

Depois, com mais outros soldados, tivemos que transportá-lo em padiola até Manacá, de onde foi transportado, em caminhão, para Passa Quatro, para ser operado. Ao colocar o Cel. Fulgêncio no caminhão, dele nos despedimos e, quando lhe apertei a mão, em despedida, vi quando dos seus olhos desceram lágrimas.

De Manacá regressei à linha de frente, tendo antes passado no almoxarifado, recebendo um saco com oito bexigas de salame e algumas bisnagas de pão, para levar para os companheiros, pois a comida era escassa e difícil de levar. 

Três dias depois ficamos sabendo que nosso comandante havia falecido no Hospital de Passa Quatro. 

Eis um episódio, Coronel René, que acho que o Sr. gostará de incluir no seu próximo livro e que, apesar da simplicidade com que é narrado, merece ser publicado, pois que relembra a morte de um valente comandante e a bravura e a dedicação dos que constituíam a velha guarda da nossa P.M. e que tanto deram e fizeram para o seu justo renome. 

Com respeitosa estima e consideração, o Sub., camarada e amigo atencioso – (a) José Fortes Coutinho, Cap. P.M. QOR."

 

Quando assumi o Comando-Geral da Corporação, aquela ideia de como promover os revolucionários de 1924, 30 e 32, fazendo-lhes justiça, continuava a martelar em minha mente. Lembrava-me das conversas que ouvia, na minha infância, e tudo isso ficava mais impregnado em minha memória. Sabia que era, há muito, uma aspiração do nosso pessoal.

Sabia, sobretudo, que muitos Comandantes-Gerais, que me antecederam, lutaram bravamente, não medindo esforços, para que essa aspiração se concretizasse. Todos, porém, foram barrados por um empecilho legal. 

Naquele momento, porém, era eu o Comandante-Geral. Cabia a mim envidar todos os esforços possíveis, honrando meus antecessores, para descobrir e encontrar o instrumento jurídico que socorresse a nossa causa e transpusesse o possível obstáculo legal. 

Desistir Jamais! Retomaríamos o assunto.

Procurei, então, o Professor Aluízio Gonzaga Araújo, então Chefe da Assessoria Técnico-Consultiva do Estado de Minas Gerais. Este era o órgão do Governo que prestava assessoria jurídica ao Governador do Estado, emitindo pareceres sobre vetos, sanções e, também, preparava anteprojetos de lei a serem encaminhados à Assembleia Legislativa, entre várias outras tarefas importantes.

O Doutor Aloízio era professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Tornou-se, mais tarde, diretor dessa Escola, por dois mandatos. Tão sábio quanto simples. De tratamento ameno, meu amigo, tive com ele uma convivência harmoniosa, sem nenhum formalismo. Era também compreensivo, dedicado e tinha um grande saber jurídico.

Expus-lhe o assunto, e ele me disse que iria examiná-lo. Alguns dias depois, nos encontramos, em uma solenidade, e ele me disse:

– Coutinho, aquele problema da promoção dos revolucionários é impossível. Temos lá, na Assessoria, uma pilha de cinco metros de altura de processos sobre o mesmo assunto. Todas as conclusões foram de que a matéria é ilegal.

– Aloízio, disse-lhe eu, data maxima venia, essa não pode ser a resposta de um dos maiores e mais notáveis juristas do nosso Estado. Disto nós já sabíamos – o nosso tratamento era muito amistoso. O nosso desafio é encontrar um argumento jurídico que prove que a matéria não é ilegal. Peço-lhe, por gentileza, que continue procurando-o.

– Já que você insiste, continuarei. Disse-me ele.

Passados mais alguns dias, encontrei-me novamente com ele, no Palácio dos Despachos.

– Coutinho, parece-me que encontrei um caminho, uma saída jurídica para aquele problema. Seria tão simples, que mais me pareceu a descoberta do “Ovo de Colombo”. Consta do próprio estatuto de vocês que a promoção por ato de bravura não tem prazo estipulado e pode ser feita, inclusive, “post mortem”.

– Abracei-o, emocionado, e disse-lhe, instantaneamente: Doutor Professor Aloízio, você é um gênio! Vou repassar o assunto e examiná-lo internamente, mas acho também que é por aí. Conversaremos depois.

Nosso estatuto era regido pela Lei n. 5.301, de 16 de Outubro de 1969. Tratava, especifica e separadamente, da promoção de oficiais e de praças e preconizava, “in verbis”:

Art. 190.  A promoção por ato de bravura dispensa outras exigências legais, sendo facultada a partir do evento.

Parágrafo único. Em caso de falecimento será o oficial promovido “post mortem”.

Quanto à promoção de praças, repetia o mesmo, “verbis”:

Art. 216.  A promoção por ato de bravura dispensa outras exigências legais, sendo facultada a partir do evento.

Parágrafo único. Em caso de falecimento será a praça promovida “post mortem”.

Fiquei eufórico, porque tínhamos descoberto o caminho. Pensava eu, entretanto, que, “ad cautelam” e por mais segurança jurídica, não só do governo, como nossa também, seria necessária uma lei, aprovada pela Assembleia Legislativa. Fui novamente conversar com o Professor Aloízio. Disse-me ele que já tinha pensado nisso e que seria mesmo necessária uma lei.

Juntos, fomos ao Governador do Estado, expusemos nossas ideias e ele as aprovou.

Após alguns meses, o então Governador do nosso Estado, Dr. Francelino Pereira dos Santos, sancionou a Lei n. 8.070, de 3 de Outubro de 1981, que definiu, como ato de bravura, a efetiva participação dos integrantes da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais nas Revoluções de 1924, 1930 e 1932.

Para comemorar as promoções, fizemos uma belíssima solenidade na Academia – Nossa Casa Mãe, como eu a chamava –, estando o pátio lotado, com muitos companheiros da Velha Guarda, bem como muitas viúvas e muitos parentes dos nossos revolucionários.

Digo que foi um dos momentos mais marcantes e emocionantes do meu comando. Depois da solenidade, recebi muitos abraços. Os ombros da minha túnica ficaram, literalmente, molhados por copiosas lágrimas de velhos companheiros, de suas viúvas e de seus familiares. Lembremos que as viúvas foram também beneficiadas com o aumento da pensão do Instituto da Previdência – Caixa Beneficente, como o chamávamos à época. Mas não era só por isso que se emocionavam tanto. Emocionavam-se, sim, pelo resgate da memória de seus maridos. Várias delas disseram-me que, quando estavam reunidos em família, seus maridos ficavam relembrando aqueles fatos, contando as histórias e os perigos pelos quais passaram. Falavam também da indignação em relação à promoção extra, que nunca tinha chegado. Só mesmo quem passou pela Corporação sabe compreender a extensão deste sentimento.

No interior do Estado, as solenidades comemorativas foram feitas pelos comandos locais. Quando, porém, eu passava pelo interior, batalhões, companhias, pelotões ou até mesmo frações menores, quando sabiam da minha presença, muitos iam, emocionados, abraçar-me e agradecer-me, inclusive, com gestos muito emocionantes.

E foi assim que conseguimos a promoção dos revolucionários de 1924, 1930 e 1932.

Fica aí o meu lembrete, que costumava dizer à tropa: o passado é o penhor do presente e o impulsionador para o futuro.

Ao final, se me permitirem, fica minha exortação: honremos nossos antepassados, bravos de outrora. Foram eles que construíram as nobres e belas tradições que a Corporação, hoje, com muito orgulho, ostenta, e o povo de Minas Gerais muito admira e respeita.

“Os passos desses heróis são faróis”

 

Cel. Jair Cançado Coutinho – QOR


Comandante-Geral da PMMG : período de 1980 a 1983










12 setembro, 2021

Juscelino Kubitschek


UM CIRURGIÃO NO FRONT

O ingresso de Juscelino na Medicina deu-se no ano de 1922, na cidade de Belo Horizonte, através da Universidade Federal de Minas Gerais. O talento para o ofício de cirurgião foi notado. Segundo Bojunga (2001):

Os colegas perceberam logo a vocação de Juscelino para cirurgião. Chegaram a fazer uma quadrinha, aproveitando o nome do grande violonista tcheco Jan Kubelík, o pai de Rafael Kubelík: Dois nomes eu estou certo/Vão pôr este  mundo em cheque/No violino Kubelík/No bisturi Kubistchek (BOJUNGA 2001, p. 73).

O bom desempenho no exercício da profissão fez com que Kubistchek logo adquirisse uma boa clientela em Belo Horizonte e isto possibilitou uma especialização em Paris, na qual foi aluno do doutor Maurice Chevassu, famoso urologista, além de estágios em Viena e em Berlim (COHEN, 2006).

A volta a Belo Horizonte deu-se no contexto do Governo Provisório de Getúlio Vargas, após a Revolução de 1930. Naquele momento, havia o intuito de melhoria da Polícia Militar do estado, à epoca Força Pública, através de ações do Secretário do Interior, Gustavo Capanema, decorrente da atuação dos militares estaduais em apoio ao  movimento varguista de 1930. Destaca-se, nestas ações de Capanema, a reestruturação do Hospital da instituição. 

Conforme Bojunga (2001):

Uma das providências de Capanema foi transformar o velho Hospital Militar em centro médico moderno, dotado de orçamento próprio e com uma equipe de médicos de renome. Embora o provimento dos cargos dependesse, em princípio de concurso, Capanema tinha em mente médicos de notória reputação que não se submeteriam a provas.

[...]

Um pedido de dona Luísa Lemos, mãe de Sarah, a Gabriel Passos, seu outro genro, incluiu Juscelino na lista dos nomeados. O marido de Sarah foi encarregado de organizar o Serviço de Laboratórios e Pesquisas, nos moldes do que vira na Europa, assumindo em seguida a chefia do Serviço de Urologia, no posto de capitão-médico (BOJUNGA, 2001, pp. 90 e 91).

O início de Juscelino na Força Pública Mineira foi decorrente, portanto, da atuação destacada como médico em Belo Horizonte e as capacidades seriam colocadas à prova durante os embates na Mantiqueira, ao lado dos combatentes mineiros que lutavam pelo controle do estratégico túnel.

Juscelino no Setor do Túnel

A necessidade da criação de uma subseção do Serviço de Saúde na região do Túnel foi decorrente, conforme descrição do responsável, major chefe, Dr J. Santa Cecília, da rude e intensa luta travada naquele local, que gerou atropelo e desorganização iniciais na assistência aos feridos (SANTOS,1933). 

Neste cenário, com  o acirramento das hostilidades, Juscelino partiu para a região do Túnel da Mantiqueira. Segundo Bojunga (2001):

No dia 16 de julho, Juscelino recebeu um telefonema anunciando que ele deveria embarcar às quatro da manhã na Estação do Horto, com o 1º Batalhão, sob o comando do tenente-coronel Francisco de Campos Brandão. Tinha seis meses de casado. A ração no três dias de viagem era à base da carne seca, que provocaca uma sede insuportável. Quando chegaram a Passa Quatro, no dia 18, a cidade já havia sido retomada pelo coronel Eurico Gaspar Dutra, mas a situação ainda era incerta (BOJUNGA, 2001, p. 98).

A estrutura do Serviço de Sáude daquele setor era composta por um Trem Hospital com raios x e Farmácia, Hospitais de Evacuação, transporte de doentes e Hospitais de Retaguarda (SANTOS, 1933). Ao chegar, recebeu como primeira missão do comandante, tenente-coronel Brandão, a instalação de um hospital do sangue, na Casa de Caridade, em Passa Quatro, que permitiu a organização de uma sala de operações. 

Heliodoro (2005) descreve uma das atuações de Juscelino, mesmo sob condiçoes adversas, no hospital de sangue:

Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, o capitão-médico Dr. Juscelino Kubitschek tornou-se famoso por haver operado um sargento que, gravemente ferido, foi deixado ao abandono pelos médicos, em virtude da absoluta falta de recursos no Hospital de Sangue da Polícia Militar de Minas Gerais, no front da Mantiqueira, no início das operações bélicas naquela região, na cidade de Passa Quatro.

Juscelino entretanto, prontificou-se em atendê-lo, mesmo sem recursos, para não deixa o homem morrer sem assistência.

Acontece que o tal sargento, que já era considerado morto, ficou bom e em pouco tempo já estava andando (HELIODORO, 2005, p. 75).

A precariedade deste hospital reforça o desempenho de Juscelino no socorro aos feridos, pois não havia anestesia - a necessidade foi suprida pela atuação de um veterinário orientado pelo capitão-médico  nem, tampouco, enfermaria, com o papel sendo desempenhado por uma freira, conforme FIGURA 1, que atuara na assistência religiosa, na 1ª Guerra Mundial, ao lado dos franceses (HELIODORO, 2005).

FIGURA 1  JK no Hospital de Sangue

FONTE: MAYRINK, 1988, p. 21.

Ainda sobre a atuação no Hospital do Sangue, Arruda (2016) descreve que Juscelino realizou por volta de mil atendimentos, entre pessoas enfermas, feridas e convalescentes, sem se preocupar em que lado lutavam, numa sala improvisada para cirurgia, com a utilização de clorofórmio como anestésico e recursos escassos, sempre com dedicação e louvor.

Segundo Santos (2003), apesar da imprecisão de alguns dados acerca dos atendimentos neste hospital, esse detalhe é irrelevante em relação à grande soma de trabalho realizada pelos doutores Pinto de Moura e Juscelino Kubistchek, ao assistirem grande massa de feridos, num hospital de emergência, sem secretaria organizada.

As condições do Hospital de Sangue fez com que parte dos atendimentos fossem transferidos para o Trem Hospital, trazido de Belo Horizonte, e colocado mais próximo ao front, nos dias finais de julho, conforme FIGURA 2. Contava, segundo relato do doutor J. Santa Cecília, major chefe do Serviço de Saúde daquele setor, com toda a aparelhagem sanitária, farmácia e raio x, além de uma equipe técnica competente (SANTOS, 2003).

 FIGURA 2 JK nas proximidades do Trem Hospital


 Fonte: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 1982, p. 43.

A melhoria substancial dos atendimentos ocorreria de fato com a chegada deste Trem, em que dois vagões foram transformados em sala de cirurgia, nos quais Juscelino atendia até mais de quarenta feridos por dia, não perdia a calma, tratava a todos com impecável educação, inteligência e discrição e se tornou destaque do Serviço de Saúde (MARQUES, 2002). 

A soma das operações no Trem Hospital chegou a cinquenta e quatro, com o registro de cinquenta e um feridos. Entre essas operações, foram realizadas sete laparotomias  cinco causadas por projéteis, uma por ferimento perfuro-cortante e uma por apendicite  e, destas, quatro foram realizadas por Juscelino Kubistchek (COTTA, 2006).

A atuação foi destacada pelo tenente-coronel Magalhães Goés, então chefe do Serviço de Saúde da Força Pública Mineira. Segundo Santos (2012):

Cirurgião do Hospital de Passa-Quatro  temperamento de slavo, calmo, modestíssimo, em extremo disciplinado, resistência de aço para, num só dia, socorrer mais de 40 feridos, sem se esfalfar, foi a grande revelação do Serviço de Saúde. Mostrou-se um ótimo cirurgião, um improvisador de meios para uma boa assistência aos grandes feridos de guerra, com impecável educação, inteligência e maneira discreta. O seu elogio pode ser resumido, transportando-se para aqui o pedido de oficiais do Exército que, ao partirem para a frente, solicitavam terem-no como cirurgião, no caso de ferimento em combate (SANTOS, 2012, p. 115).

Em meados de setembro, a batalha era favorável às tropas mineiras e, em carta a Gabriel Passos, oficial de gabinete de Olegário Maciel, Juscelino exaltou a atuação em um confronto decisivo contra os paulistas e classificou as ações dos soldados como heróicas, que tiveram como consequência o recuo das tropas inimigas (BOJUNGA, 2001). 

O recuo, entre os dias 12 e 13 de setembro, ocorreu através de intensa movimentação no lado do túnel ocupado pelos paulistas que, na euforia da retirada, deixaram para trás diversos veículos, armamentos e equipamentos.  A rendição ocorreu, conforme Santos (2016), no dia 03 de outubro, na cidade de Cruzeiro, após mais uma tentativa de cessar-fogo proposta pelos revoltosos.

O fim das hostilidades fez com que a Brigada em que Juscelino servia rumasse para o Setor Centro, em apoio à Brigada Amaral. Em decorrência, o capitão-médico foi responsável pela remoção de feridos de Passa Quatro para Guaxupé e Varginha e, posteriormente, dirigiu-se até a cidade de Campinas, para o quartel-general do comandante Barcellos.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os quase dois meses de participação de Juscelino na Batalha do Túnel foram responsáveis por inseri-lo num ambiente diverso daquele em que atuava rotineiramente no Hospital da Força Pública, em Belo Horizonte, decorrente da hostilidade e precariedade presentes no cenário em que foi obrigado a atender e operar.

A atuação é destacada justamente por ter sido realizada de maneira abnegada e eficiente, mesmo sem a existência completa de recursos necessários, comprovada por dados que demonstram a quantidade de combatentes assistidos pelo médico mineiro, durante o tempo em que permaneceu na região do conflito, considerado como a grande novidade naquela batalha, decorrente da segurança e dos bons cuidados médicos, nas palavras de um dos biógrafos, Affonso Heliodoro.

Na História da Polícia Militar de Minas Gerais, à época dos acontecimentos conhecida como Força Pública, a referência de Juscelino como membro dessa Corporação parece sempre remontar à participação na Revolução Constitucionalista de 1932, em obras publicadas pela instituição, como a produzida pelos alunos do Curso de Formação de Soldados¹, ligadas a ela ou de autores independentes, nas quais há destaque para a contribuição à combatividade das tropas mineiras empregadas no front.

A trajetória de Juscelino na Mantiqueira rendeu a ele  alcunha de bisturi de ouro pela instituição, além da nomeação do Hospital da Polícia Militar como Hospital Juscelino Kubistchek de Oliveira. Apesar do cirurgião-médico ter alcançado o posto de coronel, mais um dos indícios da importância e reconhecimento, a atuação no Túnel foi seguida do início da trajetória política, em 1933, após a nomeação como chefe de gabinete de Benedito Valadares, interventor de Getúlio Vargas, nas Minas Gerais.

O artigo pode servir de referência, portanto, para estudos posteriores acerca da participação de Juscelino como médico das tropas mineiras, além da possibilidade da relação entre esta atuação e o início da vida política, que resultaria no alcance da Presidência da República, na década de 50.


REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Gustavo de Freitas. 1932: quando São Paulo foi à luta. Disponível em: https://www.ebrevistas.eb.mil.br/index.php/adj/article/download/1033/1045/ Acesso em 03 de novembro de 2018.

ARRUDA, Lauro. Juscelino Kubistchek (JK): o médico que virou Presidente da República. Disponível em: https://www.hospitaldocoracao.com.br/wp-content/uploads/2016/01/juscelino-kubistchek.pdf/ Acesso em 03 de fevereiro de 2019.

BOJUNGA, Cláudio. O artista do impossível. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, 800 p.

BRASIL. Decreto nº. 13398, de 11 de novembro de 1930. Institue o Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, e dá outras providências. Rio de Janeiro: Diário Oficial da União, 1930.

CAPELATO, Maria Helena. O Movimento de 1932: a causa paulista. São Paulo: Brasiliense, 1981, 89 p.

COHEN, Marleine. JK. São Paulo: Globo, 2006, 111 p.

COTTA, Francis Albert. Breve história da Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte: Crisálida, 2006, 168 p.

DONATO, Hernâni. História da Revolução de 32. São Paulo: IBRASA, 2002, 153 p.

FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930: historiografia e história. 16 ed. São Paulo: Companhia da Letras, 2010, 82 p.

FONSECA, Sherloma Starlet. Memórias de um constitucionalista: Paulo Duarte e a Guerra Civil de 1932. 2009. 136 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2009.

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Revolução de 32: a fotografia e a política. Rio de Janeiro, 1982, 62 p. 

HELIODORO, Afonso. JK: exemplo e desafio. 2 ed., rev. e aumentada. Brasília: Thesaurus, 2005, 282 p.

MARCO FILHO, Luiz de. História Militar da PMMG. 7. ed. Belo Horizonte: Centro de Pesquisa e Pós-graduação PMMG, 2005, 151 p.

MARQUES, Rita de Cássia. JK, de médico a político. In:___. JK: o estadista da modernidade, 1902 2002. Belo Horizonte: CEMIG, 2002. Não paginado. 

MAYRINK, Geraldo. Os grandes líderes: Juscelino. São Paulo: Nova Cultural, 1988, 112 p.

MINAS GERAIS. Secretaria do Interior. Boletim n. 1. Belo Horizonte, 1932.

NUNES, Vanessa. Revolução Constitucionalista de 1932: articulações de um movimento. 2005. 27 f. Artigo (Pós-graduação em História: sociedade e cultura brasileira) Universidade Paranaense, Cascavel, 2005.

POLICIAIS militares protagonistas da História. Belo Horizonte: O lutador, 2016, 250 p.

RODRIGUES, João Paulo. O levante constitucionalista de 1932 e a força da tradição: do confronto bélico à batalha pela memória (1932 1943). 2009. 349 f. Tese (Doutorado em História) Universidade Estadual Paulista, Assis, 2009.

SANTOS, Edmundo Lery. Movimento de 9 de julho de 1932. Imprensa Oficial de Minas Gerais: Belo Horizonte, 1933, 306 p.

SOARES, Júlio César Fidelis. Calibre 32: Resende em armas. Disponível em: <https://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/CALIBRE32.pdf/> Acesso em: 02 de novembro de 2018. 


 Jamicel Francisco Rocha da Silva

jamilico@gmail.com



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