30 dezembro, 2020

Série viaturas antigas: Fusca

O icônico VW Fusca, é sem sombra de dúvidas um dos carros mais amados pelos brasileiros e foi utilizado por muitos anos pela PMMG no policiamento básico das mais diversas localidades do Estado de Minas Gerais. 

Foi o primeiro carro produzido pela companhia alemã Volkswagen, cujo nome significa "carro do povo". Lançado oficialmente em 1935, e projetado por Ferdinand Porsche, o Volkswagen podia ser comprado por quase todos, ao preço de 990 marcos, e era equipado com motor refrigerado a ar, sistema elétrico de seis volts e câmbio seco de quatro marchas, algo surpreendente até então. Daí em diante foram feitas várias modificações, a fim de torná-lo mais eficiente.


O modelo chegou ao Brasil na década de 50, e agradou o mercado brasileiro, sendo amplamente utilizado por Instituições militares. Apesar de existirem veículos mais potentes à época, os fuscas tinham características que tornavam seu uso interessante para a atividade policial: ao contrário dos esportivos, que eram refrigerados à água e consumiam bastante combustível, os fuscas tinham a capacidade de realizar rondas durante todo o dia, eram de fácil manutenção e podiam rodar em terrenos irregulares e lamaçais. 





O fusca do acervo histórico da PMMG

O fusquinha, VW, sedan, 1300cc, Standard, ano 1980, placa HMM-8099, que hoje faz parte do acervo histórico institucional, foi provavelmente a última viatura VW Fusca lotada em uma unidade operacional. 

A história desta viatura especificamente, inicia-se em 1981, quando representantes da Prefeitura Municipal de Uberlândia e da PMMG assinaram um termo de comodato cujo objeto era a cessão de cinco veículos VW Fusca para a Polícia Militar para utilização no radiopatrulhamento da cidade de Uberlândia. Naquela época viaturas militares não eram emplacadas e eram designadas por prefixos: a do referido fusca, VP-866. O seu emplacamento se deu muitos anos depois. Com o passar do tempo, em razão da utilização intensiva, os fuscas começaram a não suprir as necessidades do serviço operacional, sendo substituídos por viaturas mais modernas.

Em meados de 1987 e 1988, o fusquinha foi recuperado e repassado à Capelania Militar do 17º BPM, sendo utilizado pelo Capelão Padre Olezil Bezerra Vasconcelos, na realização da sua obra evangelizadora e de assistência espiritual aos policiais militares. Em 2000, o Major Capelão da PMMG, passou a não mais depender do Fusca, devolvendo-o ao comando do 17º BPM, após 11 anos de uso.



O veículo foi então cedido à AFAS - Associação Feminina de Assistência Social, do 17º BPM, que desenvolvia um trabalho de assistência social muito intenso aos policiais militares e seus familiares, sendo utilizado por quatro anos. 

Em 2006, o comando do 17º BPM recebeu uma consulta sobre a possibilidade de transferência do veículo para o acervo do Museu da PMMG, situado na Academia de Polícia Militar, Bairro Prado, em Belo Horizonte. A transferência ocorreu em 2008 e no ano seguinte, após 28 anos de utilização pela PMMG, sua situação foi modificada para estocado, ou seja, não pode mais rodar.

O automóvel foi restaurado com o grafismo original e com o prefixo VP-1616, utilizado nos anos 80 pela Cia de Polícia Feminina. Hoje o fusca e outras viaturas antigas da PMMG despertam o interesse e a admiração de crianças e adultos em solenidades e eventos realizados pela PMMG.



18 dezembro, 2020

Série Personalidades: João Guimarães Rosa

 

Desenho à lápis baseado em fotografia de autoria de José Reis
Nascido em Cordisburgo, MG, em 27 de junho de 1908, João Guimarães Rosa é reconhecido como um dos mais célebres escritores brasileiros. Suas obras, de notável expressão literária, narrativa e poética, foram traduzidas para o francês, italiano, espanhol, inglês e o alemão. Além de ocupar posição de destaque no panorama da literatura brasileira, Guimarães Rosa também foi médico e diplomata.


Sua carreira na Medicina se inicia em 1925, aos 16 anos, quando fez sua matrícula na Universidade de Minas Gerais (atual Universidade Federal de Minas Gerais). Um fato que poucos sabem e que merece registro, foi a sua passagem, como Capitão Médico, por concurso, pela Força Pública do Estado de Minas Gerais, hoje, a nossa gloriosa Polícia Militar. Serviu como médico na Revolução Constitucionalista de 1932, e em 1933 assumiu o cargo de Capitão Médico do 9º BPM, em Barbacena. Na “Cidade das Rosas”, o Rosa experimenta sensações que mudam sua maneira de ver o mundo, como ele deixa bem claro em um discurso que teve com Gunter Lorenz, em Gênova, na Itália, em 1965, no Congresso de Escritores Latino-Americanos, conforme aponta o estudo do 2º Sargento PM Francisco Neto, auxiliar P/5 da 13ª Cia. Ind. Mat. Logo depois, em 1934, se tornou diplomata, oportunidade em que serviu ao nosso país em vários lugares do mundo, como Hamburgo, Bogotá e Paris e junto a Organizações Internacionais.


Paralelamente às carreiras da medicina e diplomacia, Guimarães Rosa se dedicava à outra paixão: a literatura. Estreou na vida literária, em 1929, com a publicação do conto “O mistério de Highmore Hall”, na revista “O Cruzeiro”, mas foi em 1946, que obteve um privilegiado lugar de destaque na literatura brasileira, com a publicação do livro de contos Sagarana. Além de trazer o regionalismo novamente para o cenário literário nacional, os contos traziam uma linguagem inovadora, uma estrutura narrativa singular e a riqueza de simbologia. O tema regional teve seu ápice, com a publicação, em 1956, do único romance escrito pelo João Guimarães Rosa, o Grande sertão: Veredas, que trouxe a lume a experiência adquirida, por ele, na sua longa viagem pelo Mato Grosso quando teve contato com o campo e com os cenários, os personagens e as histórias que ele iria recriar nesta obra, uma das mais importantes da literatura brasileira.


Em 06 de agosto de 1963, foi eleito para ocupar a Cadeira 2, da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de João Neves da Fontoura. A posse, no entanto, só ocorreu em 1967, pois, segundo ele, temia ser tomado por uma forte emoção quando da cerimônia. Em seu discurso, chegou a afirmar, em tom de despedida, como se soubesse o que se passaria ao entardecer do domingo seguinte: “…a gente morre é para provar que viveu.”. Faleceu três dias depois, após sofrer um infarto no dia 19 de novembro de 1967. 

Guimarães Rosa na posse na Academia Brasileira de Letras, entre Juscelino Kubitscheck e Austrésilo de Athayde (Arquivo agência O Globo)

Guimarães Rosa na posse na Academia Brasileira de Letras (Arquivo agência O Globo)


Em em 1995 é fundada a Academia de Letras João Guimarães Rosa da Polícia Militar de Minas Gerais (ALJGR/PMMG), sob os auspícios da Polícia Militar de Minas Gerais. Casa do saber e da erudição, é um permanente templo de culto à memória de seu Patrono-Príncipe – Capitão-Médico da Força Pública Mineira, João Guimarães Rosa (JGR), que lhe deu nome. 


Entrevista raríssima do escritor e diplomata brasileiro João Guimarães Rosa com Walter Höllerer para um canal de televisão independente em Berlim, em 1962.


2º Colóquio de escritores latino-americanos e alemães em Berlim, 1964.



Fotos: Câmara dos Deputados do Brasil / Arquivo Agência O Globo / Acervo Museu Casa Guimarães Rosa

Autor: Seção de Memória e patrimônio Histórico e Cultural da PMMG



10 dezembro, 2020

Série viaturas antigas: Veraneio

 


Hoje vamos relembrar outra viatura que deixou sua marca na história da PMMG, e na memória dos mineiros!

A Veraneio da década de 70, hoje muito admirada nos desfiles e solenidades da PMMG, fez parte de um grande avanço nas ações e operações de policiamento. Sua história na Corporação se inicia em 1981, com a criação do Radiopatrulhamneto ROTAM, vinculado ao Batalhão de Policiamento de Choque. À época, percebeu-se a necessidade de criação de uma tropa especialmente treinada para atuar no combate à macro criminalidade pesada (locais com índices de criminalidade elevados, repressão a assaltos a bancos, escolta de presidiários perigosos e de valores de monta incomum). Uma força especial, pronta para atuar em qualquer região e de ágil deslocamento. Daí a importância de viaturas adequadas para atender tal demanda.

A Veraneio se encaixava perfeitamente nos requisitos: era um utilitário grande, potente e ágil. A condução era facilitada pela ampla área envidraçada, pedais suspensos e câmbio de três marchas sincronizadas. Contava com o tradicional motor Chevrolet Brasil de seis cilindros, 4,3 litros e 142cv, fazendo de 0 a 100 km/h em 18,3seg (excelente para a época), e alcançava a velocidade máxima de 140 km/h. O modelo deixou de ser produzido em 1989, sendo substituído por utilitários mais modernos.







Envie a matéria para um amigo que é fã de viaturas antigas!


Fotos: Acervo Institucional PMMG.


Autor: Seção de Memória e Patrimônio Histórico e Cultural da PMMG

05 dezembro, 2020

Série viaturas antigas: Jeep Willys

Na foto, o Jeep Willys da General Motors ano 1968, primeiro veículo utilizado pela PMMG, que representou um grande avanço na Instituição.

De origem norte americana, foi um dos primeiros automóveis produzidos em território nacional pela subsidiária da Willys Overland do Brasil, fundada na cidade de São Bernardo do Campo em 26 de agosto de 1952. O modelo é uma versão pick-up da Rural Willys, sendo denominado Pick-up Willys, Jeep Willys e mais tarde F85, para uso do exército brasileiro.

Caracterizado por sua robustez e versatilidade, era capaz de percorrer terrenos irregulares e corredeiras d’água com bastante agilidade, e foi amplamente utilizado em operações militares. Também foi muito utilizado em rondas urbanas, apesar de sua vocação off road.


A versão estendida tinha 51cm a mais e era oferecido com duas ou quatro portas de lona, podendo transportar de seis a oito passageiros, respectivamente, conforme montagem dos bancos da parte traseira da carroceria. Também possuía suporte para a colocação do armamento.
Há relatos que o “Jipão” ou “Bernardão” (termo popular provavelmente derivado do local de fabricação) foi apelidado pelos militares de “cavalo inteiro”, devido à força que possuía e por carregar de tudo um pouco: militares durante os patrulhamentos e materiais de toda necessidade nos serviços administrativos.



Tem algum registro fotográfico com esta viatura? Compartilhe conosco!

Fotos: Acervo Institucional

Autor: Seção de Memória e Patrimônio Histórico e Cultural da PMMG

02 dezembro, 2020

300 ANOS DE MINAS GERAIS, 245 ANOS DA PMMG: uma só música em nosso espírito mineiro

 

   Saindo da escuridão das grutas, escorrendo pelos igarapés, embrenhando em matas, cerrado e florestas, escalando cada morro, paredões e chapadas, sobre o mar de montanhas no céu mais azul cintilante, ecoa o som dos bravos Mineiros. Batuques, lutas, sopros, lagrimas, dedilhados e sorrisos capazes de construir, como uma complexa sinfonia, um Estado símbolo de natureza, riqueza, trabalho, música e prosperidade. Negros, mulatos, brancos, mamelucos, cafuzos, todos humanos, ergueram um Estado país, um Estado nação, uma força libertadora vanguardista.


    Três séculos se passaram desde a separação administrativa das capitanias São Paulo e Minas Gerais. Em 02 de dezembro 1720 foi registrado o nascimento oficial da soberania das terras mineiras. Aqui ecoou as mais lindas canções de liberdade e as trombetas anunciaram o surgimento de uma terra gloriosa.


    Em cada passo das trilhas, um “caminho novo” aberto, um acorde nessa história se fez necessário. A música ressoa nas veias dos mineiros assim como os veios de ouro rasgavam as matas. Para proteger toda essa riqueza eis que surge o Regimento Regular de Cavalaria de Minas, atuando sob o som dos clarins em 1775.


  Trompas, trombones, clarinetes, violinos, contrabaixo, guitarras, teclados e muitos outros instrumentos passaram a compor as ações militares com o passar do tempo. Uma força policial sempre avançada ao seu tempo para preservar um Estado pujante.


   Os anos se passaram e o desenvolver dessa música foi ficando cada vez mais melodioso e polifônico. Hoje somos Polícia Militar de Minas Gerais e exercemos a função de garantir ao povo mineiro Segurança Pública e cidadania. Esse serviço seria muito mais difícil se não fosse a musicalidade no serviço incansável de nossos bravos militares músicos.


   Parabéns Minas Gerais! Parabéns Policia Militar! Parabéns, mais que especial, para os músicos que sempre estiveram presentes em TODOS os momentos dessa história, fomentando esperança, alegria e dignidade em cada coração brasileiro.


Autor: Diogo Gomes Ferreira de Campos, 3º Sgt PM

DCO / CAM /OSPM

MINAS 300 ANOS - POLÍCIA MILITAR PATRIMÔNIO DO POVO DAS ALTEROSAS

 Flávio Augusto, Cel PM QOR1

História da PMMG se confunde com a história de Minas Gerais e vice-versa”.


Corria o ano de 1695 quando o português Antônio Rodrigues descobriu ouro nas aluviões dos cursos d’agua, por entre as montanhas mineiras. A riqueza, além de atrair a ganância e a cobiça de milhares de pessoas, deu início a um período de evolução econômico-social em nossas terras interioranas, que ficou conhecido como “Ciclo do Ouro”. As picadas e estradas abertas foram interligando povoações, que com o interessante afluxo de aventureiros e escravos, cresciam e tornavam-se vilas. Desse rápido povoamento eclodiram muitas desordens e confusões, que colocavam em cheque o escoamento de nossas riquezas rumo a corte portuguesa.


A riqueza e o isolamento da região, cercada por densas matas, altas montanhas e caudalosos rios, serviu também para criar uma identidade própria no povo que ali habitava que, em face de tantas riquezas dali retiradas, logo começou a conspirar por mais liberdade. Para melhor conjecturar o momento narrado, nada melhor que os escritos do Conde de Assumar, Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos, então Governador da Capitânia de São Paulo e das Minas de Ouro, no início do século XVIII sobre a terra das alterosas e o jeito do seu povo:

(...) “a terra parece que evapora tumultos; água exala motins; o ouro toca desaforos; destilam liberdade os ares; vomitam insolências as nuvens; influem desordens os astros; o clima é tumba da paz e berço da rebelião. ”

 Em 1720, como consequência da revolta de Felipe dos Santos, Minas Gerais foi separada da capitania de São Paulo, passando assim a ser uma capitânia e a ter um governo próprio na cidade de Vila Rica, hoje Ouro Preto. Com medo de novas revoltas e na tentativa de conter as desordens, atender os interesses da metrópole, o rei de Portugal mandou para a capitania duas companhias de dragões, retiradas das tropas que cuidavam da escolta e da segurança da família real, sendo que em 1729 chegou uma terceira companhia. Essas tropas logo se desarticularam, corrompidas que foram pela distância, pela falta de disciplina, pela nova cultura e pela riqueza mineral que brotavam do solo.


Para atender as necessidades de segurança, no dia 9 de junho de 1775 o então governador da Capitania das Minas, Dom Antônio de Noronha, criou o Regimento Regular de Cavalaria de Minas, com a tropa composta por alguns remanescentes das Companhias de Dragões e com homens recrutados no meio de autóctones, cujo custeio correria por conta dos cofres públicos. Dessa tropa paga, originou-se, a atual Polícia Militar de Minas Gerais.

Embora com estrutura castrense, essas tropas tinham atividades específicas de polícia, enquanto tratavam de manter a ordem pública na agitada capitania. Nesse mister destacou-se como “Comandante dos Sertões” o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, mais tarde imortalizado como “Tiradentes”, o único dos líderes da Inconfidência Mineira que foi julgado, condenado e morto por seus sonhos de liberdade. O terceiro comandante dessa força pública foi um brasileiro, o Tenente-Coronel Francisco Paula Freire de Andrada, o primeiro nascido no Brasil a comandar a organização que se transformou e hoje é a PMMG, que também foi preso degredado para Pedra do Engojé em Angola no continente Africano, por sua participação na Inconfidência Mineira.


Com a vinda da família real para o Brasil em 1808, uma companhia do Regimento Regular foi retirada para formar o Regimento Imperial hoje Batalhão de Guarda Presidencial, sediado em Brasília/DF. Ainda no século XIX, a passagem mais robusta da nossa instituição foi na guerra do Paraguai, quando o 17º Voluntários da Pátria, esteve atuando na heroica Retirada de Laguna, ajudando também em outras operações a vencer o conflito reconhecido na história como o maior da América do Sul. 


Com a Proclamação da República, houve o pacto federativo, marcando o século XX por uma beligerância das forças militares estaduais, sendo na prática um Exército Estadual. Para treinar a tropa adestrando-a para a nova realidade de emprego, foi contratado o Cap. Robert Drexler, do Exército Suíço, em 1912, permanecendo nessa atividade até em 1927 ou 1930 para alguns pesquisadores. Suíço, como era chamado, tornou-se responsável pelo Ensino Profissional na corporação, tendo realizado vários feitos entre os quais encontramos indícios até os dias atuais. Dentre eles cito o porte do policial militar, espírito de corpo no seio da tropa, mudança do uniforme, criação da NPC (Normas de Prêmio e Castigos) atual ERF (Extrato de Registro Funcional), escola regimental para alfabetizar os militares, obtenção de três campos de instrução em Belo Horizonte, no Prado Mineiro (hoje Academia de Polícia Militar), um na Fazenda da Gameleira (5º BPM) e outro no Alto Cruzeiro atual bairro da Mangabeira, onde anos mais tarde, se instalou um bairro nobre de BH e onde se localiza também a residência oficial do Governo de Minas Gerais.


Sempre preocupado com a instrução da tropa, introduziu o treinamento continuo, quando cada batalhão enviava uma Cia para a Capital com o objetivo de ser instruída no período de um ano. Hoje podemos afirmar que é o modelo do CTP de maneira inovada e adaptada a atual realidade. O resultado do trabalho do Suíço, pode ser notado na participação da PM na revolução de 1930 e 1932, quando a tropa mineira mostrou nos campos de batalha toda a sua eficiência e eficácia, ganhando o respeito e a admiração de todo o Brasil por causa do seu desempenho.


Com o término da 2º Guerra Mundial, impulsionou mudanças em todo o mundo e no Brasil não foi diferente. Getúlio Vargas foi deposto e um ano depois, em 1946 foi promulgada a nova Constituição do Brasil. Vieram mudanças significativas, pois as forças militares dos estados, passaram a ser denominadas “Policia Militar” consideradas a partir de então, constitucionalmente como reserva do Exército. Passaram também a ter a responsabilidade de exercer três atividades básicas de policiamento militar que seriam: o preventivo, repressivo e o de trânsito. Com isto, a mentalidade policial começou a florescer com muita força entre os integrantes da PM, embora no interior do estado, desde a época de Tiradentes a atividade de policiamento já se executasse, inclusive as atividades de polícia judiciária junto a sociedade até o início dos anos de 1980.

Na cidade de Belo Horizonte, capital do estado, a realidade era diferente, havia dois batalhões (1ºBPM e 5ºBPM) que muito embora exercessem atividades de policiamento em estabelecimento prisional, guarda do Palácio da Liberdade e Mangabeiras, além das Secretarias do Estado, não executavam o policiamento ostensivo nos logradouros. Eram tropas aquarteladas, militarizadas que passavam a maior parte do tempo realizando treinamentos para guerra. Com a nova constituição, em 1955, se criou uma companhia de policiamento ostensivo, iniciando assim atividades propriamente policiais. A companhia foi criada pelo Cel. Antônio Norberto, Capitão naquela época, o policiamento era executado por duplas de policiais, denominadas “Castor e Pólux”, que popularmente ficaram conhecidas como duplas “Cosme e Damião”. Este modelo de policiamento foi um sucesso indo ao encontro dos anseios da sociedade. No ano seguinte, 1956, todo o 5º BPM, passou a realizar nos principais logradouros de Belo Horizonte, o policiamento ostensivo a pé com as duplas de Policiais Militares.


Os anos de 1960 foram de grande efervescência política no Brasil e no mundo, quando jovens inspirados na doutrina marxista, pregavam e tentaram realizar uma revolução socialista, inspirados nos intelectuais e na revolução cubana, a qual diziam ter sido bem-sucedida. Sob o comando do Coronel José Geraldo de Oliveira e do Governador Magalhães Pinto, a PM de Minas teve destacado papel no movimento que ficou conhecido como Revolução de 64, que tinha como objetivo impedir o estabelecimento de uma ditadura de caráter socialista no País. Esse movimento logo tomaria novos rumos e, a PMMG vista com certa desconfiança pelo Governo Central, apoiou o Vice-Presidente do Marechal Artur da Costa e Silva, Doutor Pedro Aleixo para assumir a vaga de presidente, deixada pela morte do primeiro. Isso não aconteceu e o Brasil viveu alguns anos de um Governo de Exceção, capitaneado por militares das forças armadas. O Presidente Tancredo Neves, nome imprescindível para a redemocratização do País, quando Governador de Minas Gerais, nos anos de 1980, ao se referir à Polícia Militar Mineira, chamava-a carinhosamente de “Força Pública”.


Em 1967, em decorrência do Decreto – Lei n. 317/67, e depois o Decreto-Lei n. 667, editado pelo governo militar, mudanças importantes voltaram a ocorrer em nossa Força Pública, redefinindo os rumos para o seu atual papel e estrutura, na manutenção da ordem pública. O primeiro decreto criou a Inspetoria Geral das Polícias Militares, órgão subordinado ao Estado-Maior do Exército. Foram disciplinadas questões como: efetivo, instrução, tipos de equipamentos, viaturas e modalidades de emprego, etc. Para a exclusividade no policiamento ostensivo, em 1969 foi editado o Decreto-Lei nº 1072, o qual reconheceu apenas uma polícia fardada no Brasil, as Policias Militares de cada estado federativo. Hoje, com a missão constitucional de realizar o policiamento ostensivo fardado, voltado para a prevenção e preservação da ordem pública, as Policias Militares subordinam-se aos respectivos governadores dos estados e são consideradas forças auxiliares, reservas do Exército Brasileiro.


Na atualidade, sem se descurar de seus deveres de Força Pública, nossa Corporação restabeleceu com a sociedade civil laços muito fortes através de sua dedicação em proteger e socorrer às comunidades, na busca incessante pela paz social, materializados através de ações de polícia comunitária. Em todos os municípios do Estado de Minas Gerais, há um o braço estatal representado pela Polícia Militar.


Em toda a sua história, a corporação das alterosas teve nos seus quadros personalidades ilustres da história do nosso Brasil. Tiradentes, Tenente-Coronel Paula Freire que participaram da Inconfidência Mineira. Um ilustre brasileiro, que honrou as fileiras dessa força como oficial médico, na revolução de 1932, o então Capitão Médico Juscelino Kubitschek de Oliveira, serviu no hospital de campanha, instalado na cidade de Passa Quatro. Anos mais tarde, no dia 21 de abril de 1960, ostentando o posto de Coronel, o então Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira inaugurava Brasília, a nova capital Federal do nosso País. Outro brasileiro ilustre, que integrou as fileiras da PMMG foi o Capitão Médico João Guimarães Rosa, escritor que mais tarde se tornou diplomata. Designado para cidade de Hamburgo na Alemanha, durante a 2º Guerra Mundial, de maneira discreta ajudou muitos judeus, que eram perseguidos pelos nazistas.


Quando relembro das histórias dos nossos antepassados, suas dificuldades e seus feitos, encontro a origem do nosso amor por nossas comunidades, por nosso Estado e pelo Brasil. Sinto também que a comunidade deposita em nós, integrantes da Força Pública, parte importante de seus anseios e esperanças naconstrução de uma sociedade justa e perfeita, buscando sempre o melhor para todos.


Nestas poucas linhas, imbuído dos ideais dos Inconfidentes, dedico minhas lembranças de maneira humilde e sincera, aos companheiros de todos os tempos, que dedicaram e dedicam suas vidas na defesa da sociedade.

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1 - Professor de História da PMMG e Direito Processual Penal Militar da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais.

Acadêmico-Efetivo-Curricular da Academia de Letras João Guimarães Rosa. Patrono: Jésus Carmelita de Miranda - Cadeira: 19.

Acadêmico Emérito da Academia Brasileira Medalhística Militar. Patrono: Joaquim José da Silva Xavier – Cadeira 06.

     

Referências:

COTTA, Francis Albert. Breve História da Polícia Militar de Minas Gerais. 1. Ed. Belo Horizonte, MG: Crisálida, 2006. 165p.

_________________ . Breve História da Polícia Militar de Minas Gerais. 2. Ed. Belo Horizonte, MG: Fino Traço, 2014. 268p.

_________________. Matrizes do Sistema Policial Brasileiro. Belo Horizonte: Crisálida, 2012. 391p.

MARCO FILHO, Luiz De. História Militar da PMMG. 7ª ed. Belo Horizonte: Centro de Pesquisa e Pós-Graduação – PMMG, 2005.151p.

MAGALHÃES, Euro. A Polícia do Ano 2000: Uma Visão Gerencial. Revista o Alferes, Belo Horizonte, 12, pag. 27 a 34, jan/fev/mar. 1987.

25 novembro, 2020

SOBRE O MOMENTO CULTURAL PMMG

O Momento Cultural é um projeto criado pela Diretoria de Comunicação Organizacional da PMMG, por meio da Seção de Memória e Patrimônio Histórico e Cultural, com o intuito de exaltar e difundir os valores, a história, a memória e o legado cultural da Polícia Militar de Minas Gerais.

A PMMG, Instituição bissecular, possui uma história robusta que caminha passo a passo na promoção da cidadania e do bem estar do povo mineiro. Olhar o passado desta Instituição é ter certeza que o caminho foi fundamentado e solidificado. Seu presente está sendo escritos sob a égide de uma Segurança Pública cidadã. Seu futuro não podemos prever, mas seu contorno reluz como o ouro das Minas Gerais.

Considerando tamanha riqueza histórica, percebeu-se a necessidade de difusão da história e da memória Institucionais, promovendo a valorização e o sentimento de pertencimento por parte dos militares, bem como a aproximação e integração com a sociedade. 

Este é um projeto colaborativo, sendo assim, solicitamos a participação de todos: com comentários, sugestões de postagens, informações complementares sobre as fotos e artigos publicados e envio de material relacionado à História da PMMG. Neste último caso solicitamos que as informações sejam enviadas com o maior detalhamento possível para o e-mail: centroculturalhistorico@gmail.com.

Polícia Militar de Minas Gerais, a minha História é a nossa História!


Esperamos que você, caro leitor, aproveite os conteúdos aqui postados!


Autor: Equipe da Seção de Memória e Patrimônio Histórico e Cultural da PMMG


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